Os frutos da maturidade

Os frutos da maturidade

Diferenças técnicas entre jogos exclusivos de Microsoft e Sony
#Artigos Publicado por Antonio, em

Há temas cujo aspecto polêmico não se pode tocar, senão desperta um certo mal. A simples menção de algo relacionado deflagra uma onda de ódio e de soberba. São dois pecados capitais de uma vez só. Mas, as labaredas de fogo do inferno não inibem essa parcela do público, que se rivaliza em uma guerra de consoles entre Microsoft e Sony. Entretanto, em um país livre, onde se pode ainda dizer o que pensa, vedado o anonimato, conforme a Constituição, o presente texto ousa questionar: por que, em geral, os jogos da Sony pareceram, tecnicamente, melhores do que os da Microsoft na geração anterior?

Antes de tudo, expliquemos o contexto e o sentido do termo técnico usado nesse texto, ele não abrange apenas os gráficos, mas também as animações, level design, interação com o ambiente, física, IA, entre outras coisas. A aplicação do termo refere-se à qualidade da execução desses atributos em cada game.

Posto isso, abaixem as armas e vamos tratar do assunto. A questão não é qual das duas gigantes têm as franquias de maior peso para a indústria. Halo não perde a sua importância para a história dos videogames após uma sequência não tão boa como outras já vistas. Nem também sofrerá do mesmo mal uma sequência com nota abaixo para o aclamado God of War. Essas franquias ajudaram a comunidade de jogadores a criar e desenvolver os laços da cultura gamer.

Agora que a maioria está mais calma, continuemos. A Microsoft iniciou a geração passada com uma franquia nova cujo aspecto visual deslumbrou. Para um console visto como inferior em poder computacional em relação ao PS4, o Xbox one mostrou uma qualidade gráfica impressionante com Ryse: son of Rome. A empolgação tomou conta do público, pois tratava-se apenas do começo da geração. Assim, esperava-se que as desenvolvedoras de jogos exclusivos para a Microsoft entregassem trabalhos superiores, conforme os anos avançassem. Entretanto, essa expectativa cumpriu-se em alguns casos, como na última sequência de Gears of War, em Halo 5, Quantum Break e em Forza Horizon 4. Ainda tivemos a expectativa atendida em games como Sunset Overdrive, Cup head e em Ori.

O game produzido pelos estúdios Xbox que melhor retratou a qualidade do trabalho técnico foi Forza Horizon 4 e 5. É impressionante a maturidade alcançada pela Playground. Hoje, não faz sentido deixar de citar a série Horizon ao falar de games de carro. A editora recebeu como prêmio a franquia Fable para reavivá-la. Apesar de somente ter trabalhado com jogos desse gênero, quase ninguém desconfia do êxito do empreendimento inédito. Pelo contrário, as expectativas só aumentam.

Porém, essa maturidade, já alcançada anteriormente, não se refletiu nos games das developers de Gears e Halo. Talvez, no caso desse último, a saída da Bungie tenha afetado mais a produção de jogos do Master Chief do que realmente parece. No caso do segundo, não se sabe bem se houve algum dano na produção de Gears após a saída da Epic, porque o 4 e o 5 são bons trabalhos técnicos da The Coalition. Talvez falte a essa franquia o mesmo que faltava a God of War até o “reboot”.

Por sua vez, a Sony, no começo da geração, ainda se vangloriava do trabalho realizado em The last of us, que, pode-se dizer, abriu a nova geração, ao lado de GTA5. Vimos The Order apresentar um trabalho visual espetacular, porém, muito carente em outros aspectos técnicos. Em seguida, a parceria com a FromSoftaware rendeu um dos melhores jogos já produzidos, Bloodborne. Esse game captou a essência dos jogos Souls, desenvolveu e ampliou-a em uma jornada extremamente desafiadora e recompensante.

A sequência de Uncharted revelou o amadurecimento técnico da Naughty Dog. Horizon: zero down, como nova IP, não inovou o mercado, mas trouxe um trabalho muito bem estruturado, o que fez o público enxergar a nova franquia com bons olhos e esperar por uma evolução. Death Stranding, apesar de controverso, é um belo trabalho de uma figura icônica da indústria gamer. Ghost of Tsushima arrancou muitos elogios de público e crítica. Nesses jogos, percebe-se uma evolução do padrão técnico dos jogos exclusivos produzidos para o Playstation.

Ao citar o termo crescimento orgânico em um comentário público, o CEO da Sony, talvez, fizesse referência a esse processo pelo qual passam seus estúdios e parceiros para alcançar a maturidade. O suprassumo dos jogos da Sony revelou-se com God of war e com a sequência de The last of us. No primeiro, a Santa Monica mostrou a capacidade de se reinventar sem perder a qualidade. No segundo, a Naughty Dog elevou o seu padrão de qualidade técnica a algo alcançável por poucos jogos antes na história.

A resposta à pergunta do primeiro parágrafo, como se viu, passa pela produção do game durante o estágio de crescimento do estúdio. Poucas editoras e parceiras da Microsoft tinham a curva de crescimento técnico para cima quando produziram os jogos para o Xbox. No caso da Sony, ocorreu justamente o contrário e isso impulsionou demais as vendas e a percepção dos seus produtos para o consumidor, consolidando a empresa japonesa como uma das maiores empresas do ramo.

Entretanto, essa resposta não induz verdade nem é imutável. A Microsoft investiu pesado na aquisição de estúdios experientes e talentosos. Essa onda de aquisição traz consigo não só IPs de qualidade e renome como também mão de obra qualificada para elevar o padrão técnico de seus games. Viu-se a quantidade de estúdios do Xbox e de parceiros crescer de forma sem igual. Mojang, Rare, Undead Labs, The Coalition, Bethesda, Tango, Id Softaware, Obsidian, Ninja Theory e a Activision Blizzard. Todo esse trabalho da Microsoft, além dos serviços, modificou a perspectiva dos seus produtos gamers no mercado.

Apesar do tema polemizar bastante, quem olha a situação e enxerga apenas uma rivalidade tóxica, priva-se de testemunhar o processo de competição a impulsionar as empresas a produzirem jogos cada vez melhores para seu público. Esse estado de alerta perene conduz a um crescimento planejado e constante. Quem ganha com isso? A resposta é óbvia. Por outro lado, quem ganha quando se limita à bolha irrespirável de ofensas gratuitas e sem sentido? Ora, o público que vai arder nas labaredas do fogo...

Artigo de opinião do usuário do site.

Antonio
Antonio #a.marcio
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