Desenvolver para o Game Pass: "Eu jamais poderia mostrar essas ideias para uma editora"
A Xbox quer trazer novos jogadores, os quais talvez não sejam tão obcecados em dirigir carros velozes e atirar em alienígenas. Ela deseja isso há muito tempo. É por isso que criou o Kinect e desenvolveu jogos como Screamride e Viva Pinata. Mas desta vez a empresa espera fazer isso através de uma série de grandes aquisições de estúdio feitas nos últimos dois anos, junto com jogos criados por suas equipes já estabelecidas, como Rare e Mojang.
O chefe da Xbox, Phil Spencer, disse:
A busca por conteúdo mais diversificado está diretamente vinculada ao Game Pass, o serviço de assinatura no qual os jogadores pagam uma taxa mensal para acessar uma biblioteca de jogos. Desde o início, o Xbox deixou claro que sua estratégia de aquisição de estúdio se trata de conseguir assinantes, em vez de simplesmente vender mais consoles.
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Tim Schafer, diretor do estúdio Double Fine, o qual a Xbox adquiriu em 2019, disse:
Isso me faz pensar em algumas das ideias malucas de jogos que tivemos, e em algumas delas eu... jamais poderia mostrar para uma editora. Nunca conseguiria um contrato. Agora estou abrindo essa pasta de documentos novamente e dizendo "ah, eu realmente amo essa ideia, aposto que poderia fazer isso agora".
A Microsoft deseja conteúdo diversificado para o Game Pass, mas ao mesmo tempo, deseja não tirar a liberdade dos estúdios. Matt Booty, chefe da Xbox Game Studios, diz que seu trabalho é sair do caminho e deixar que os criadores tenham ideias.
Mas e se essas ideias não se encaixarem no que o Game Pass precisa? E se a Microsoft precisar de mais jogos infantis, mas todas as suas equipes apresentarem conteúdo com classificação para adultos?
Phil Spencer responde:
Mas eu entendo o seu ponto com as classificações etárias. Queremos garantir que nosso portfólio possua jogos de várias classificações. Mas não somos exigentes dizendo que precisamos de três desse tipo de jogo e quatro daquele outro.
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Matt Booty acrescenta:
Mas com o Game Pass e os estúdios que compramos durante o ano passado, tudo ainda é relativamente novo. Ainda estamos na fase de crescimento e vendo como tudo isso funciona. À medida que a ideia do Game Pass amadurecer e que o nosso sistema de estúdio amadurecer, podemos começar a pensar... existe um certo tipo de jogo em que precisamos investir mais? É uma espécie de fase de crescimento. Mas no momento, sinto-me realmente feliz em dar prioridade a uma diversidade de conteúdo. É isso que realmente procuramos. E só conseguimos fazer isso porque temos o ID@Xbox trazendo tantos títulos bons e nossa equipe third-party trabalhando com as grandes editoras. A junção de tudo isso faz com que funcione.
Muitos dos diversos jogos que Booty e Spencer estão falando devem vir dos estúdios recém-adquiridos, que têm a missão de criar coisas diferentes. Mas e quanto alguns dos estúdios já estabelecidos da empresa? Os responsáveis pelas grandes franquias como Halo, Gears, Forza, Minecraft e Age of Empires? Poderia a The Coalition, que passou a vida fazendo jogos da série Gears of War, de repente decidir fazer um jogo de plataformas infantil?
Booty ri, dizendo:
Eu entendo o que você quer dizer. Mas para mim, eu vejo essas coisas um pouco como Star Wars, entende? Ah, eu tenho que trabalhar em Star Wars. O que mais há para se criar? Mas eles criam coisas como The Mandalorian e Clone Wars. Se você tem um universo rico, você tem muito conteúdo que pode explorar.
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Fora dos gêneros disponíveis no Game Pass, ainda há uma certa incerteza sobre como abordar a criação de jogos para um serviço de assinatura. A Mojang não pensou no Game Pass durante o desenvolvimento de seu recente lançamento, Minecraft Dungeons. Mas sabia que os jogadores poderiam abandonar o jogo se não os conquistasse rapidamente.
Helen Chiang, chefe da Mojang, disse:
Tendo o mesmo sentimento de Schafer sobre abrir uma antiga pasta de ideias malucas, o chefe da Obsidian, Feargus Urquhart, sente que o Game Pass permitirá que o estúdio de RPG, que a Microsoft adquiriu em 2018, crie coisas que não seriam aprovadas de outra forma. Como seu próximo jogo de sobrevivência, Grounded.
Eu li o livro Free: The Future of a Radical Price, e eles fizeram um estudo onde ofereciam chocolate em um campus. Era 11 centavos por um bom pedaço de chocolate e um centavo por um pedaço mediano. E eles conseguiram um bom número de pessoas em ambas as faixas de preço. Depois, eles diminuíram em um centavo o preço de ambos e todo mundo pegou o chocolate de graça. Mesmo sendo dez centavos de diferença. O Game Pass nos dá a oportunidade de criar coisas novas, e as pessoas vão experimentá-las porque não estão julgando. Elas não estão gastando esses 10 centavos. Isso mudou a forma como encaramos diferentes conceitos.
Isso também nos ajuda internamente, pois temos essa ideia de que as pessoas podem fazer rotação entre os produtos. Elas podem fazer algo diferente e depois voltar para um grande RPG.
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Brian Fargo, que lidera outro dos novos estúdios da Microsoft, a InXile, pondera se o Game Pass mudará a maneira como ele lança e dá suporta aos seus jogos.
Talvez ainda façamos um jogo de 60 horas, mas não no lançamento. Talvez seja um terço disso, e depois divulguemos o conteúdo por um período de tempo. Existem oportunidades em que talvez não seja necessário exagerar e lançar um jogo desse tamanho com o Game Pass. Mas ainda temos que sentir que é uma experiência empolgante e gratificante, independente da sua duração. Poderíamos ter um divertido e filosófico debate sobre um jogo de 20 horas versus jogo de 50 horas. Eu jogo muitos desses produtos e, muitas vezes, me vejo dizendo "estou pronto para terminar agora", mas tenho mais 20 horas de jogo pela frente.
Fargo aborda um debate recente que surgiu no espaço de jogos, que é se os jogos AAA modernos precisam durar tanto quanto andam durando. Há uma noção de que os desenvolvedores se sentem obrigados a prolongar seus jogos para garantir que tenham sucesso. O Game Pass talvez alivie esse problema?
Urquhart não está convencido. Ele aponta para o fato de que a Obsidian fez grandes RPGs como Fallout e outros mais curtos como South Park. E o fator decisivo para a duração desses títulos foi o jogo e seu público, mais do que qualquer outra coisa.
No que diz respeito ao Game Pass, você vai adorar esta resposta, mas eu não sei. Você poderia fazer algo episódico como The Walking Dead, mas eu não quero jogar Fallout: New Vegas por 10 horas e esperar pelas próximas 10 horas. Quero viajar pelo mundo. Vamos descobrir como aplicar as horas de jogo no que está no Game Pass. Mas você precisa conhecer o jogador e o tipo de jogo.
Mas eu acho, que a longo prazo, algumas pessoas não têm apetite por jogos longos. Existe um grupo. Mas isso não se trata do Game Pass.
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Schafer conclui que jogos longos, jogos curtos, single-player, multiplayer, sequências ou novas ideias, o que está se mostrando empolgante no Game Pass é que, no momento, a Microsoft deseja tudo isso.
Mas essa é a questão mais antiga nos jogos. Eu faço isso há 30 anos e, na LucasArts, estávamos tendo exatamente a mesma conversa sobre o fato de sempre colocarmos "40 horas de jogo". E pensamos: não poderíamos simplesmente fazer jogos menores e explorar uma pequena ideia em vez dessa ideia gigante? Agora podemos fazer as duas coisas. Podemos fazer tudo.