Junji Ito, conheça o mangaká por trás de P.T. e Silent Hills

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Junji Ito é um dos mais aclamados roteiristas e desenhistas de terror. Suas histórias são aconchegantes e desconcertantes. Seus personagens estão sujeitos à maldições, espirais que os assombram e transformações monstruosas. Hideo Kojima e Guillermo del Toro se encontraram com ele para criar Silent Hills, mas quem é esse mangaká e o que ele poderia trazer para a indústria dos jogos?

Junji Ito nasceu em 1963. Desde os 5 anos, começou a ler mangás de terror. O que ele sentiu ao ver aquelas imagens arrepiantes também o motivou a tentar desenhá-las com a mesma idade. Ocasionalmente, ele também assistia filmes de terror na televisão, mas eles o faziam ter pesadelos. Em sua casa, seu banheiro era subterrâneo, no final de um longo corredor. Quando tinha que fazer xixi à noite, ele ouvia som de insetos e criaturas caminhando sobre sua cabeça. Ele não suportava isso, especialmente se tivesse ido para a cama depois de ver um desses filmes. Essas experiências o marcaram, mas desenhar cenas semelhantes o ajudou a dominar esse pânico e se divertir.

Assim como Hideo Kojima, a memória que seus pais lhe passaram da guerra afetaram ele profundamente. Para muitas crianças Japonesas daquela geração, as bombas, o assassinato de tantos entes queridos e a subsequente derrota nacional se tornaram o pior pesadelo. Era como uma história que eles não entendiam como tudo começara e que parecia que, embora já tivesse terminado, nunca realmente acabaria, porque ainda estava presente na memória de seus pais. E também como muitos jovens da época, OVNIs, o espaço e a possível existência de alienígenas o cativava.

Quando ele teve que escolher uma carreira, Junji Ito estudou medicina. Ito se especializou em odontologia, o que lhe deu uma grande compreensão do corpo humano, técnicas cirúrgicas, doenças, dor e morte, e o fez sentir-se atraído pela ideia de imortalidade; o que foi acrescentado ao resto das suas experiências de vida para formar uma obra desoladora, surreal, kafkiana e desoladora que tem como centro a destruição da própria natureza humana, assim como na série Silent Hill.

O Assustador Efeito Hipnótico

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Alguns de seus trabalhos mais lembrados e premiados são: Tomie, de 1987; Uzumaki, publicado entre 1998 e 1999; Gyo, entre 2001 e 2002; e as histórias de terror Long Dream, The Hanging Balloons e The Enigma of Amigara Fault.

Tomie é a história de uma jovem imortal cujos pretendentes ficam deslumbrados por ela e lhe concedem todos os seus desejos. Gyo é um conto aterrorizante sobre criaturas mecânicas que dominam peixes e outros seres vivos, enchendo o mundo com um terrível gás tóxico como arma de destruição em massa. Uzumaki, seu trabalho mais célebre, leva-nos a uma cidade que sofre com a maldição dos espirais, transformando seus vizinhos em monstros e desencadeando calamidades.

Long Dream fala sobre sonhos, morte e experimentos na mente. The Hanging Balloons é sobre suicídio e como a morte convida outros a morrer também. The Enigma of Amigara Fault, um de seus contos mais perturbadores, mostra o aparecimento de rachaduras na forma de uma silhueta humana em uma montanha, as quais convidam as pessoas a entrar nelas, caminhar por seu interior e serem voluntariamente esmagadas.

Dois Planetas Orbitando um Sol Escuro

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Se você jogou Silent Hill, especialmente o Silent Hill 2, há muitos elementos em comum entre as histórias de Junji Ito e a franquia da Konami. Para começar, conta com um protagonista que voluntariamente decide entrar dentro do mal por alguma obsessão que o devora por dentro, e isso sempre o leva à sua própria destruição.

Essas rachaduras em The Enigma of Amigara Fault têm um apelo semelhante à névoa de Silent Hill: são bocas que não revelam o que está do outro lado, mas você sabe que elas vão te devorar. O mesmo vale para Kurouzu, a cidade em que Uzumaki se passa. A vila é amaldiçoada, mas os visitantes estão constantemente chegando, atraídos pelo seu mistério.

Os protagonistas das obras de Ito sempre mantêm a sanidade; a mente deles se degrada quando tudo ao seu redor é destruído, mas eles geralmente não se preocupam em descobrir por que tudo isso está acontecendo com eles. Porque o exterior sinistro é um reflexo da sua natureza humana já horrível, mas conhecida.

Esse também é um elemento comum no terror Japonês: histórias que impressionam, mas não possuem um começo nem fim claros, carecem de explicação e nem buscam um significado esclarecedor; ao contrário de Resident Evil e seu terror mais focado no público Americano, onde procura trazer explicações completas.

Por Que Hideo Kojima Estava Interessado Em Junji Ito?

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Ao contrário de Junji Ito, Hideo Kojima não é muito chegado em terror, na verdade, ele tem medo. Mas é precisamente por esse motivo que ele quer fazer um jogo assustador há tantos anos: aprender a dominar esses sentimentos poderosos e usá-los em seu proveito. Ele explica isso no livro Extra Life. O terror tem uma poderosa capacidade de abstração e imersão. Ele pega você e te coloca na experiência, mesmo que você não queira; algo que Hideo Kojima costuma fazer em seus jogos. De fato, os filmes de zumbi de George A. Romero tiveram uma enorme influência na criação da série Metal Gear.

Mas embora o trabalho ocidental de Romero o tenha influenciado (histórias em que também não é explicado de onde vem o monstro), há algo que o levou a preferir Junji Ito antes desse diretor (além de Romero já estar morto, é claro): seu gosto pelo surrealismo Japonês como produto da sua paixão pela leitura do romancista Kobo Abe, cujos trechos de seus livros aparecem na abertura de Metal Gear V e Death Stranding; uma sensação que também está presente no trabalho de Ito.

Portanto, para o desenvolvimento de P.T., Hideo Kojima e seu colega Guillermo del Toro acharam uma ótima ideia entrar em contato com Junji Ito para trazer sua visão, a qual era similar a Silent Hill, para Silent Hills da Kojima Productions. É importante notar que Junji Ito já conhecia Kojima há 20 anos, como ele próprio reconheceu.

A Espiral de Junji Ito é a Espiral de P.T.

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Junji Ito confessou que, quando os dois o apresentaram o projeto, ele queria se desculpar dizendo que nunca havia jogado um jogo antes em sua vida, mas Kojima respondeu que não tinha problema. Eles conversaram muito sobre Silent Hills e os três terminaram a noite cantando no karaokê. E a verdade é que nada acabou acontecendo. A famosa demo de P.T. possui muito da essência de Junji Ito, e nos mostrou o que esse mestre do terror surreal Japonês poderia ter contribuído para revitalizar uma série morta. Porque, se analisarmos as obras dele e pensarmos bem, o trabalho de Junji Ito é mais Silent Hill do que o próprio Silent Hill.

Em Uzumaki, Ito mostra um povo condenado pela maldição dos espirais. Uma das manifestações dessa maldição é o retorno obsessivo ao início, a impossibilidade de escapar do medo que habita um lugar, tornando um local conhecido em algo arrepiante. O corredor circular da demo é uma espiral que se torna aterrorizante ao percorrê-la várias vezes sem poder fugir.

A porta do banheiro que se abre é tão deslumbrante e atraente quanto uma das rachaduras em The Enigma of Amigara Fault. Ela o atrai, mesmo sabendo que só há morte lá dentro. Novamente em Uzumaki, ele mostra uma história sobre o terror que um bebê pode provocar conscientemente e que não deixou o ventre por vontade própria.

Onde o Trabalho de Ito Se Encaixaria Melhor?

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Além dessas semelhanças, Junji Ito possui uma fabulosa coleção de monstros: animais transformados em armas por parasitas em Gyo, as cabeças flutuantes de The Hanging Ballons que convidam as pessoas ao suicídio... além de uma forma incrível de transformar o próprio cenário em mais um monstro.

A maior perda no cancelamento de P.T. é que não poderemos ver Junji Ito no centro de um jogo de terror. Hideo Kojima seria o intérprete perfeito para levar os mangás dele para uma mídia interativa, pois ambos apreciam o surreal, a imersão de uma maneira muito particular e oferecem imagens chocantes ao jogador. Além disso, precisamos que os autores de mangá comecem a participar da indústria dos jogos dessa maneira.

De qualquer forma, ainda há esperança. Se você jogou Death Stranding e se encontrou com o engenheiro, deve saber que ele é o próprio Junji Ito. Cruzem os dedos.

Vinicius
Vinicius #VSDias55
, Florianópolis
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