Análise | As Dusk Falls

Análise | As Dusk Falls

O jogo em que acompanhamos uma trama contada em forma de slides
#Análises Publicado por Sr Ori, em

As Dusk Falls é um jogo de aventura feito pela Interior Night, mas o título pertence e foi publicado pela Xbox Game Studios. Esse foi o primeiro jogo feito pelo estúdio desde que foi fundado em 2017 por Caroline Marchal, antiga diretora criativa da Quantic Dream. O jogo se assemelha bastante a outros do gênero, trazendo foco na história, Quick Time Events (QTE), várias decisões para serem tomadas e outras mecânicas que geralmente fazem parte desse estilo. Logo abaixo explico um pouco melhor como tudo isso funciona.

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HISTÓRIA

Começando pelo foco do jogo que é contar uma boa e intrigante história, a trama central se passa em torno de 1998 quando a família composta por Vince, Michelle, Jim e Zoe estão viajando de mudança para tentar começar uma nova vida em outra cidade. Porém, após um acidente perto de uma pequena cidade do Arizona, eles são obrigados a rebocar o carro e tentar passar um tempo em um motel próximo.

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Ao mesmo tempo que isso acontece, a família Holt está tentando fugir da polícia após um roubo que deu muito errado. Assim, eles tentam se esconder no motel em que a família de Vince e outros dois funcionários estavam, tratando-os como reféns para não serem pegos pela polícia. A partir daí suas vidas se entrelaçam e as escolhas que o jogador faz decide o destino de cada um deles.

Tudo isso é mostrado no primeiro livro composto por três capítulos, os quais são a parte mais agitada e tensa da história. A segunda parte foi criada com maior foco em mostrar as consequências do primeiro livro e qual foi o destino de cada personagem apresentado, sendo contada de forma bem mais lenta e de certa forma até meio monótona em alguns pontos.

A parte mais interessante disso tudo é como o jogo conseguiu aprofundar bem na história de cada personagem e mostrar como a história de vida pode levar as pessoas a terem certas ações, pois até mesmo quando a pessoa tem claramente más atitudes, conhecendo a fundo a história de vida dela, o jogador pode ficar relutante em diversas decisões que o jogo apresenta. A forma com que As Dusk Falls apresenta isso acaba sendo uma forma mais realista e focada realmente no comportamento de cada indivíduo, diferente de outros jogos que focam na diversão ou na romantização da história. Isso é mais nítido ainda quando se chega ao final da história e o desfecho é extremamente simples e sem reviravoltas, pois o foco é em abordar situações que não fujam muito da realidade.

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No geral, As Dusk Falls tenta mostrar que cada decisão tem um peso muito forte não somente na vida do personagem controlado, mas de todos os outros ao redor, além de mostrar que muitas vezes não existe lado certo ou errado, mas apenas conflitos de interesse.

O única parte negativa sobre a história que notei e que poderiam ter trabalhado melhor com mais tempo de jogo é a apresentação de alguns personagens e outras situações dos que já foram apresentados, porque em alguns momentos parece que a história ficou extremamente corrida e não mostrou diversas partes, tentando se focar exclusivamente naquele conflito apresentado no início. Isso não atrapalhou a trama como um todo, mas ela poderia ser melhor complementada ao mostrar com mais detalhes certos pontos da história.

JOGABILDADE

Agora abordando sobre algumas das mecânicas do jogo, no geral ele é bem semelhante a outros jogos do gênero. As escolhas feitas pelo jogador tem impacto direto no que pode acontecer no futuro, seja logo após a decisão ou até nos próximos capítulos da história. As Dusk Falls tem duas formas bem interessantes de mostrar que sua decisão teve efeito em algo. A primeira forma é que às vezes no canto da tela aparece um ícone que basicamente diz que a parte atual da história está acontecendo por conta de uma decisão anterior. A segunda forma é que em certos momentos ele avisa que, dependendo da escolha, a história toma um rumo totalmente diferente. Além disso, ao final de cada capítulo, é mostrado um fluxograma da história e junto a ele a porcentagem geral que mostra quantas pessoas seguiram aquele mesmo fluxo que você.

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Agora sobre a parte de ação, As Dusk Falls se baseia em QTE para dar dinamismo nesses eventos. Em determinados momentos para atacar, desviar ou realizar outra ação o jogador terá que acertar a sequência de botões apresentados na tela e que são bem simples. Caso estejam jogando vários jogadores na mesma sessão, todos devem prestar atenção pois o jogo alterna os comandos entre os jogadores e, caso alguém falhe, pode mudar totalmente o rumo da história ou ao menos parte dela.

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Uma parte que foi bem estranha e difícil de acostumar é que parece existir um atraso para todo tipo de comando, seja para selecionar as opções ou para apertar os botões da QTE. Isso é bem pior ao movimentar o "mouse" na tela, pois parece que realmente existe um atraso e muitas vezes acaba sendo chato de fazer as escolhas até acostumar com a movimentação daquilo.

Outro ponto que não vi encaixar muito bem são as partes em que os jogadores precisam vasculhar algum cômodo em busca de objetos ou pistas. Não fez muito sentido porque várias das opções são apenas um diálogo aleatório e não agregam na história, sendo que essa parte poderia ser algo mais linear e mostrando o que realmente deveria ser visto. Como se não pudesse piorar, quem experimentou o modo multijogador sabe bem, se várias pessoas escolherem diferentes lugares para explorar o jogo decide escolher a opção da maioria ou de forma aleatória caso haja empate, mesmo que a opção seja um diálogo que não agrega em nada.

Multiplayer

E como mencionei anteriormente, existe a possibilidade de ter vários jogadores jogando a mesma história ao mesmo tempo, se limitando a até 8 pessoas. Para isso o jogo abordou uma forma um pouco diferente do convencional, permitindo que todos os jogadores pudessem decidir o andamento da história.

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Mas claro que terão impasses entre os jogadores, pois várias das escolhas são realmente complicadas e cada um terá sua preferência. Então quando acontece essa divisão de escolhas, As Dusk Falls escolhe a decisão da maioria ou, caso haja empate, a decisão é escolhida de forma aleatória.

Caso os jogadores também queiram, existe a opção dentro do jogo que concede um número de vetos para cada jogador dentro de um capítulo. O veto serve para sobrescrever as decisões feitas por outros jogadores, mesmo que seja a escolha da maioria. O veto de um jogador também pode ser vetado por outro jogador, mas ambos que utilizaram perderam a quantidade usada para aquele capítulo. Essa mecânica é totalmente configurável e inclusive pode não existir caso os jogadores prefiram.

Essa também é uma forma muito bacana de jogar com outras pessoas que não jogariam o jogo sozinhas, mas que são incentivadas a experimentar por ter a chance de jogar com outra pessoa. No fim acaba sendo bem mais interessante discutir como outras pessoas sobre o rumo da história.

Talvez fosse meio complicado chamar alguém que gosta apenas de assistir filmes ou acompanhar outras formas de entretenimento para aproveitar desse modo multijogador. Porém As Dusk Falls possui configurações de acessibilidade para contornar isso e permitir com que mais pessoas possam jogar juntas. Além de claramente ele estar no Xcloud, o jogo possui botões configuráveis para facilitar o jogo, além de adaptação para daltônico, aumentar o tempo das escolhas e muito mais para que todas as pessoas possam aproveitar. Esse certamente é um incentivo para acompanhar a história do jogo ao lado de quem gosta de passar um tempo junto.

VISUAIS E TRILHA SONORA

Essa foi uma parte bastante discutida por muitos e para alguns até fez perder o interesse no jogo, que é o seu visual. Ele conta a história através de retratos realistas pincelados, mudando como se fossem slides para mostrar ações e reações de personagens em cada diálogo ou situação que se encontravam. Apesar de ser bem incomum, acabei gostando bastante de como isso foi trabalhado para criar dinâmica na história, tratando os personagens como imagens que foram sendo mudadas ao lado de um ambiente 3D animado. O contraste desses dois elementos ficou bem diferente e interessante de acompanhar.

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O visual acaba parecendo um pouco com o conhecido estilo visual novel por só permitir acompanhar a história e reações do personagem através de textos e voz, ou seja, o jogador não controla em nenhum momento o personagem. E as imagens são muito bem desenhadas para mostrar expressões de felicidade, alívio, preocupação e várias outras, contribuindo muito para a imersão na história.

Já na parte sonora, houveram pequenas falhas mas ao mesmo tempo muitos acertos. Abordando sobre as dublagens dos personagens, a grande maioria foi excelente e parece realmente representar a voz e a entonação que o personagem usaria para seus diálogos. No entanto, nem todos são tão bem interpretados, como por exemplo a garota Zoe que aparenta ter uma entonação muito forçada para sua idade.

Ainda sobre a dublagem, em diversos momentos, por algum motivo, o áudio fica muito baixo e após alguma mudança de câmera ele volta ao normal. Não ficou claro se isso era algum bug ou se tentaram simular a distância da voz do personagem com a câmera, mas se foi proposital então foi extremamente mal feito.

Por outro lado, a música acabou sendo impecável para o contexto e época em que o jogo se passa. Ela complementa muito bem a história que está sendo contada e principalmente a música tema de As Dusk Falls conta muito sobre o jogo.

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Concluindo...

As Dusk Falls entregou uma arte bem diferente do convencional e até sua história é um pouco diferente do que esperamos desse gênero de jogo. Não esperem várias surpresas na história ou um final impactante, pois a abordagem do jogo é mais voltada para a briga de interesses pessoais e decisões humanas, e em como isso pode impactar na vida de cada um dos personagens apresentados. Caso a pessoa tenha interesse nesta abordagem, pode se surpreender com esse jogo.

O jogo obviamente possui defeitos que poderiam ser melhor trabalhados para entregar uma experiência mais completa e funcional, mas ainda assim é possível aproveitar o jogo com o que foi entregue.

E caso queira convidar amigos ou parentes para desfrutar dessa história juntos, o jogo consegue ser muito acessível até para pessoas que nunca tocaram em um videogame, permitindo que quem quiser consiga aproveitar sem problemas. Esse é um dos pontos fortes desse jogo e que com certeza motivará muitos a jogarem.

Disponível nas plataformas: Xbox One, Xbox Series X|S, PC e Xcloud.

Possui dublagem/legendas em português: Sim.

8.0
Nota
Uma visual novel animada que aborda de forma muito interessante uma narrativa adulta e com difíceis escolhas
Prós
  1. Conflitos e decisões da história
  2. Características dos personagens
  3. Escolhas influenciam no andamento da história
  4. Músicas que se encaixam ao jogo
  5. Modo multijogador
  6. Recursos de acessibilidade
  7. Visuais dos personagens
Contras
  1. Atraso em todos os comandos
  2. Procurar objetos em uma sala
  3. Dublagem português de alguns personagens
  4. Algumas vezes as vozes ficam baixas
  5. Partes corridas da história
Sr Ori
Sr Ori #luhckaz100

Fã de yakuza e jogos que trazem experiências criativas e diferentes das que já tive.

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