Relembrando | Há 10 anos, Tom Clancys Rainbow 6: Patriots mudou a Ubisoft como conhecemos

Relembrando | Há 10 anos, Tom Clancy's Rainbow 6: Patriots mudou a Ubisoft como conhecemos

Dando uma olhada em um dos mais ambiciosos jogos da empresa que acabou sendo cancelado por questões políticas
#Artigos Publicado por Billy Butcher, em

Entre 2005 até 2010, a Ubisoft ganhou um enorme reconhecimento na indústria de jogos, não só por lançar grande jogos anualmente, mas por sempre estar se reinventando em diferentes gêneros, e principalmente, por estar dando cada vez mais passos ousados e mais originais, algo que foi elogiado em produções como Assassin's Creed II, Far Cry 3 e Splinter Cell: Conviction.

Um ano após esse grande ''boom'' da empresa na mídia, fomos encarados com a surpresa do anúncio de um novo jogo do universo criado pelo escritor Tom Clancy, Rainbow Six. Após a reinvenção da série com os ótimos Rainbow Six Vegas 1 e 2, um time da Red Storm Entertainment, criadores da série, recrutou veteranos de franquias como SOCOM e Call of Duty, que na época estavam em seus ápices, para criar uma experiência séria, brutal e narrativa em forma de Rainbow 6: Patriots, um jogo ambientado nos tempos modernos onde veríamos os Estados Unidos da América (EUA/USA) em uma diferente perspectiva.

Como nos livros de Tom Clancy e nos jogos da série em geral, Rainbow 6: Patriots iria colocar o Team Rainbow outra vez para a ação na cidade de Nova York, NYC, para lidar com um grupo terrorista que se autodenomina 'True Patriots' (Verdadeiros Patriotas). No primeiro vídeo onde fomos apresentados ao título, os Patriots foram mostrados como um grupo de milícia populista, assumindo a responsabilidade de agir como juiz, júri e carrasco em nome e vingar as supostas vítimas do que consideram corrupção de Wall Street.

Em um dos poucos vídeos divulgados pela Ubisoft para o jogo, que você pode ver abaixo, encaramos um pouco do que eles mostram dessa visão:

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''Esse é o dia tão esperado. Tantos anos de treino e sacrífico. Isso começou quando você se tornou maior que o governo. E quando o governo se tornou maior que seu povo. Assim, a terra de muitos se tornou o reino de poucos. Se você gosta de si mesmo, Senhor Walsh (referindo-se ao político Joe Walsh), é bom saber que está na hora de um novo equilíbrio do poder. Você pode não responder ao governo, mas vai responder a nós,

—Patriotas.''

Após a revelação oficial do trailer em Dezembro de 2011, alguns veículos de mídia criticou fortemente a Ubisoft pelas decisões tomadas para o plot narrativo do jogo, com as principais citações negativas indo para a direção que a empresa tomou de ''mostrar o lado podre dos EUA'' usando de Walsh, que na época foi membro de câmara dos representantes dos EUA. Resultado, algumas semanas após movimentos de retaliação contra a editora, a maioria dos vídeos censurou algumas cenas e falas originais do vídeo, apesar que hoje em dia é possível encontrá-las, uma vez que o jogo já foi cancelado.

Falando de gameplay, nunca tivemos um grande trecho de jogabilidade real do jogo sendo mostrada devido as críticas após esse primeiro trailer em CGI, mas a Ubisoft publicou um vídeo de ''Gameplay Representation'' de R6 Patriots durante o Spike Video Game Awards 2011, cujo foi guiado por David Sears, diretor criativo e designer do jogo. No vídeo, temos algumas cenas ainda mais chocantes, como a cena de interrogatório dos ''Patriotas'' com um casal, onde eles usam a esposa do personagem que é controlado por nossa perspectiva para os ajudarem a livrar ''o mal dos EUA''.

Na época que o Gameplay Representation de Rainbow 6: Patriots saiu, a Red Storm e a Ubisoft Montréal se aliaram ao coletivo da Game Informer para lançar um site especial e dedicado com informações sobre o contexto narrativo e de gameplay do título. Falando nisso, até hoje o site está disponível para todo o público acessar, e caso você queira dar um olhada, pode acessá-lo por aqui.

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“O terrorismo evoluiu, assim como Rainbow 6”, disse o diretor David Sears. “Em Rainbow 6: Patriots, todo o jogo de equipe, táticas e realismo que os fãs da série amam foram associados a uma nova direção narrativa séria e reflexviva. Isso adiciona um nível de humanidade sem precedentes que tornará o jogo uma experiência extremamente realista, tensa e envolvente.”

''O aspecto mais interessante da história é como será apresentada a partir de uma variedade de perspectivas. 80% da campanha é jogada da perspectiva da equipe de contraterrorismo, Rainbow 6, mas os 20% restantes serão jogados da perspectiva de outros personagens, de civis inocentes a socorristas, como motoristas de ambulância e bombeiros, até mesmo os próprios terroristas.''

Originalmente, o jogo estava planejado para chegar em 2013 no Xbox 360, PlayStation 3 e PC, com a promessa da Ubisoft de revelar mais sobre o título na E3 2012, com participações do título tanto na conferência da própria editora quanto na da Microsoft, que possuía acordos de parceria para todos os jogos da marca Tom Clancy por um período de 10 anos. Eis que chegamos no fatídico ano, e as primeiras notícias que surgem são da demissão de David Sears (diretor), Richard Rouse (escritor) e Philippe Therien (produtor) do jogo. Ambos eram veteranos de altíssimo respeito da indústria, especialmente Sears, que foi o criador de SOCOM e diretor dos 2 primeiros jogos da série. Eles haviam proposto a ideia de R6 Patriots para Ubisoft Montréal e Red Storm em 2009, quando se juntaram a empresa na concepção do projeto, mas devido as polêmicas envolvendo o jogo e os EUA, a Ubisoft preferiu por demiti-los.

Daí em diante pouco vimos do projeto, além de algumas artes conceituais que exponencialmente apareciam vez ou outra na internet. Um pequeno momento de alívio sobre a produção do jogo ainda continuou vivo quando a Ubisoft revelou no fim de 2012 que Jean-Sebastian Decant, designer de Heavy Rain e diretor de Driver: San Francisco e Far Cry 3, estava assumindo o cargo de diretor criativo de R6 Patriots numa tentativa de ''amenizar conteúdos desnecessários do enredo'' e ''melhorar sua aparência visual e gráfica''.

Um dos aspectos de Rainbow 6: Patriots que permaneceu intacto no entanto, foi o seu Componente Multiplayer (que mais tarde foi expandido, e como você deve saber, virou aquele famoso jogo no cenário de eSports chamado Tom Clancy's Rainbow Six Siege). Na época do anúncio de R6 Patriots, foi revelado que os menus do jogo foram projetados para serem imersivo. A Ubisoft disse que ''uma vez que você começa a jogar Rainbow 6: Patriots, você faz a maior parte da navegação do menu de dentro da sede virtual do Team Rainbow.''

Também haveria um novo sistema no motor gráfico do jogo capaz de gerar física realista em todos os ambientes do multiplayer, que como nos Rainbow Six anteriores, iria girar entorno de locais fechados e bem projetados para abrigar muitas maneiras de realizar táticas. Esse novo modelo foi batizado pela empresa como a evolução natural da física nos jogos, que faria dos ambientes de Rainbow 6: Patriots completamente destrutíveis, dando ainda mais verticalidade para a experiência geral do jogo. Mal vimos isso em ação no R6 Patriots, mas tal modelo inteiro foi levado para o sucessor do jogo cancelado.

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''Identificar e marcar os inimigos terá um grande papel. Depois de entrar em uma sala, você terá um "ícone de instinto" que pisca na parte inferior da tela, notificando que alguém está de olho em você. (Este seria um bom momento para se proteger)'', disse o designer líder do multiplayer do jogo, Simon LaRouche.

''Se você avistar um inimigo, ele pode permanecer "avistado" para toda a sua equipe, aparecendo em seus esconderijos em um contorno vermelho até que desapareçam de vista, após o que o contorno desaparece após três segundos.''

Planejado para ser o grande trunfo final da geração de Xbox 360 e PS3 pela Ubisoft, os objetivos da empresa para Rainbow 6: Patriots não eram pequenos. Seu orçamento foi planejado a primeira vista em US$ 40 milhões, mas os atrasos, demissões das principais cabeças do projeto e uso de novas tecnologias do zero fizeram esses custos aumentaram mais e mais, fazendo o projeto ter chegado a quase US$ 110 milhões no seu budget final. Também não ajudou que uma nova geração de consoles, a de PlayStation 4 e Xbox One, estivesse chegando justo no ano que o jogo foi planejado para ser lançado, 2013.

Com isso, mais um adiamento foi feito, agora para 2014, com Rainbow 6: Patriots se tornando cross-gen. Alguns resquícios da física avançada do jogo foram pegos pela Massive para construir sua SnowDrop, que mostrou o resultado disso na revelação de The Division na E3 2013, um jogo que era totalmente o contrário da proposta de Patriots, sendo descrito como um ''Online - Open World - RPG experience'', se distanciando do gênero Single-player que a Ubisoft foi tão conhecida em toda aquela última geração. Também foi informado pelo Kotaku em 2013 que a equipe trabalhando em R6 Patriots havia sido ligeiramente reduzida. Anteriormente, mais de 400 funcionários trabalhavam no projeto, e após os problemas a frente, ficaram apenas 90 desenvolvedores a frente do projeto.

Um último momento de vida do jogo surgiu no início de 2014, quando resquícios de artes conceituais do jogo surgiram, sugerindo sua aparição na E3 2014. Nelas podíamos ver um pouco mais claramente o que esperar da Campanha e do Multiplayer de R6 Patriots, com cenários obscuros e uma ambientação um pouco mais futurística que o anteriormente mostrado do jogo sendo os principais destaques. Isso talvez tenha sido uma das mudanças que ocorreram em todo o escopo do projeto após ter sido repassado de mãos para ''dar um ar mais clean''.

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Eis que a E3 2014 finalmente chega, e bem no ''One More Thing'', somos apresentados a um novo grande título do universo Tom Clancy's Rainbow Six, mas que não era aquilo que muitos pensavam ser. Rainbow Six Siege foi nos mostrado pela primeira vez, e sendo guiado pela maioria do pessoal de R6 Patriots, aqui o jogo se resumia a um Competitive FPS Multiplayer onde temos o Team Raven vs. Team Rainbow numa versão evoluída do componente online de Patriots. Mostrando excelentes gráficos e iluminação de ponta, muitos questionaram o que levou a Ubisoft a cancelar R6 Patriots após parecer um jogo tão robusto e a frente do seu tempo.

Na época em que foram perguntados, a Ubisoft disse que R6 Patriots ''não evoluiu como eles queriam'', citando seu setor gráfico não ter ficado na expectativa que a empresa esperava para um jogo de Xbox One e PlayStation 4, também citando que ''os objetivos do contexto narrativo de R6 Patriots não eram mais algo que a Ubisoft buscava trazer para seus jogadores''. Foi aí que a quebra de paradigma da empresa começou.

Antes conhecida por jogos focados na experiência Single-player, a Ubisoft viu em R6 Patriots uma maneira de levar isso a um novo nível de qualidade, mas acabou dando um passado para trás devido a todo burburinho crítico de jornalistas e até mesmo de políticos dos EUA quando jogo apareceu pela primeira vez, criticando a empresa por colocar ''jogadore controlando terroristas que se dizem saber de uma verdade irreal''. Somando tais problemas com o sucesso que Rainbow Six Siege trouxe para a empresa no modelo Games-as-a-Service, foi dado o fim definitivo de um ambicioso projeto que passou 5 anos e meio em desenvolvimento.

Hoje em dia a Ubisoft trata o projeto cancelado como uma página virada de sua história, apesar de as vezes, mesmo que minimamente, citar o título em pequenos easter-eggs nos seus outros jogos, como por exemplo, em Ghost Recon: Wildlands. Em uma das missões do jogo, onde os Ghosts falam sobre trabalhar ao lado do Team Rainbow, os personagens falam sobre uma missão que "foi para o sul" chamada "Operation Patriots". O personagem Cav acaba se irritando e exige saber como você (jogador) sabe sobre tal missão, uma vez que ela é tratada como ultrassecreta.

Você pode ver tal momento no vídeo abaixo:

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E esse foi o fim de um dos mais controversos jogos que a Ubisoft e seus estúdios Red Storm e Ubisoft Montréal tentaram realizar. O que começou como um jogo de enorme orçamento com objetivo de expor os EUA da maneira mais crua e séria o possível, sendo uma ambição liderada por veteranos de grande renome, acabou se tornando um título que hoje é conhecido principalmente por ser um dos jogos de FPS online mais famosos mundialmente.

Billy Butcher
Billy Butcher #BillyButcher

Um grande fã de jogos e filmes dos gêneros Stealth e Ficção-Científica.

Tenho uma paixão imensa pela franquia Metal Gear Solid, na qual considero a minha favorita, porém também sou um grande amante das sagas Halo e StarCraft.

Moderador do Site, Volta Redonda, Rio de Janeiro
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