Saiba como títulos como FFXII e Phoenix Wright foram traduzidos

#Notícia Publicado por Nightcrowley, em .

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Semana passada, o clássico do PlayStation 2, Final Fantasy XII, foi lançado para Xbox One e Nintendo Switch. Trata se do mesmo remaster que foi lançado para PS4 a dois anos atrás, provando que, de várias maneiras, Final Fantasy XII é uma experiência que estava a frente do seu tempo. Quatorze anos atrás, o jogo representou uma estranha reviravolta que mudou a franquia de RPG para sempre, introduzindo funcionalidades como combate em tempo real e um mundo amplamente aberto que pareceu esquisito para muitos jogadores. Hoje em dia, FFXII parece mesmo moderno.

Alexander O. Smith tem trabalhado na tradução de jogos em japonês para o inglês desde o final da década de 90. Ele disse que, apesar de ter uma longa carreira, Final Fantasy XII é um dos poucos jogos que ele trabalhou e sentiu que ele não precisava voltar e fazer grandes alterações. "Ainda me sinto muito bem sobre isso" disse ele, "não é algo que eu sinta muita coisa em relação a outras coisas em que eu trabalhei".

É um momento interessante para Smith. Além do re-re-lançamento de FFXII, no início do mês passado, e também o lançamento de uma versão remasterizada de Phoenix Wright: Ace Attorney trilogy, Smith traduziu a versão em inglês [do jogo] que foi lançada em 2005. No que se diz a respeito dos dois jogos, Smith disse que da primeira vez que ele trabalhou neles, ele não esperava que eles fossem ter um ciclo de vida tão longo. "Muito desses jogos eu achava que era um tiro no escuro, as pessoas poderiam até gostar deles na hora, mas em seguida iam esquecê-los," disse ele.

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Antes de trabalhar em FFXII, Smith passou quatro anos trabalhando na sede da Square Enix em Tóquio, tendo começado com a tradução de Final Fantasy VIII. E antes disso, ele estagiou na Sega. Após alguns anos trabalhando diretamente nos estúdios, ele e seu amigo de tradução Joseph Reeder, criaram a sua própria empresa de localização, Kajiya Productions. Dois dos seus primeiros projetos foram justamente Phoenix Wright e FFXII, que apresentaram muitos desafios diferentes. No caso de Phoenix Wright, o jogo já estava terminado quando a tradução começou; a franquia estreou originalmente no Gameboy Advance em 2001, mas ele ficou restrito ao Japão até o lançamento do port para Nintendo DS quatro anos depois. "Eles me deram o texto e disseram, Vai", explica Smith.

Jogando hoje, muita da experiência ainda se mantém, mas há alguns momentos que o diálogo pode parecer datado. O primeiro Ace Attorney tem um produtor de TV que fala inteiramente em lolspeak, e em 2019, este tipo de linguagem parece que vem uma época longínqua. Mas Smith disse que o objetivo original era criar algo que parecesse contemporâneo. "É muito difícil criar algo que seja super atemporal," disse ele, "especialmente se o jogo se passa em um determinado momento."

Em Final Fantasy XII, o processo foi muito mais longo e mais envolvente. O time de tradução começou a trabalhar muito antes do processo de produção do game começar, ajudando os desenvolvedores na documentação inicial desse mundo. Então, depois de uma pausa de cerca de um ano e meio, Smith e Reeder começaram a trabalhar no texto real. Mas mesmo assim, o jogo não estava completo; então, a dupla teve que traduzir coisas como menus e diálogos no jogo enquanto a [Square] terminava o desenvolvimento do jogo.

"Você acaba esperando (pelo fim do jogo) e pegando as peças que você pode, jogando o game e se familiarizando com o texto, e esperando cumprir as metas." explica Smith. "Passamos nove meses fazendo a parte sonora do game, que foi tipo uns 12% do volume [de trabalho]. E então passamos cinco meses fazendo os 88% restante, o qual não era dublagem."

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O processo de parar-e-começar venho com alguns benefícios. Essas pausas deram a Smith a oportunidade de ter novas ideias. Por exemplo, ele achou que o bestiário da versão japonesa de FFXII seria um pouco ceco para um público que fala inglês. "Os jogadores japoneses possuem uma expectativa muito diferente quando se trata de texto in-game," disse ele. Mas já que ele teve um tempo extra, ele pôde pegar os livros de medicina da era vitoriana para emular o modelo e catalogar os monstros de Final Fantasy no bestiário. "Acho que deu um toque especial, e ainda continua fazendo parte do mundo," explica Smith.

Há outros elementos que tiveram que ser alterados na tradução. Final Fantasy XII se passa em um reino de fantasia, com sua cultura e regiões diferentes bem documentada. No idioma original do jogo, todo mundo fala com o mesmo sotaque japonês, mas logo, Smith percebeu que isso não funcionava em inglês. Então as pessoas de cada região do game falam com sotaques diferentes, que adicionou uma camada extra de desafio quando chegou na parte de gravar as falas. (Além de traduzir o texto, Smith também trabalhou como produtor de dublagem no jogo.) "É algo que não existia na versão japonesa, porque não fazia sentido," disse ele sobre os acentos regionais. "Mas se não tivéssemos ralado um pouco mais, você acabaria com um mundo fantasioso que parece plano."

Além ter trabalhado com jogos, a empresa de Smith também expandiu para outras mídias. Seus trabalhos de tradução incluem o romance policial premiado Keigo Higashino, The Devotion of Suspect X e vários mangás do famoso criador de Dragon Ball, Akira Toriyama. Quando se trata de jogos, ele disse que, ultimamente, seu trabalho desviou o foco para o mercado mobile. Trabalhar nas fábulas de console foi uma experiência muito mais demorada que exigiu longas horas de pesquisa e tradução. Mas olhando para trás em um jogo como o FFXII hoje, que é lembrado com tanto carinho, Smith diz que às vezes sente falta daqueles projetos de larga escala.

"Realmente não fazem jogos como esse mais," disse ele.

Nightcrowley
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