Clássico Inesquecível

#Tópico Enviado por Homer Simpson, sobre Sid Meier's Civilization, em .
Homer Simpson
Homer Simpson

Ainda me lembro bem daquele ano de 1991. Olhando com os olhos atuais, ao mesmo tempo ele parece tão distante e tão próximo. Era uma época difícil, marcada pela inflação que corroia os salários, pelos confiscos compulsórios das poupanças alheias e pela instabilidade macroeconômica geral.

Era fã de jogos eletrônicos desde a época do Atari e das noites viradas jogando River Raid, Enduro e Pitfall. Naquele crepúsculo de minha infância, possuía um Bit SYstem (pra quem não sabe, trata-se de um videogame de 8 bits compatível com o NES)e um saudoso 386 33 Mhz. ?? difícil para as novas gerações entender o quanto esses aparelhos eram considerados "avançados" naquele época.

Foi quando fui jogar Goal (de novo, para quem não lembra, trata-se de um jogo meio rudimentar de futebol digital para NES) na casa de um amigo. Eram tempos em que apenas a criatividade infantil seria capaz de associar quadrados e retângulos na tela a contextos , situações e objetos realmente existentes. Foi quando o irmão deste meu amigo (um notório fã dos então recentes jogos de estratégia) me apresentou um game ?saído do forno?, baseado numa narrativa da história humana.

Confesso que mesmo para os padrões tecnológicos da época, minha primeira impressão foi que os gráficos eram pouco atraentes e isso não me agradou. Quando, porém, fui apresentado à lógica do jogo e comecei a entender seus parâmetros, poucas coisas no mundo do entretenimento virtual me causaram tanto impacto. Os gráficos simples pouco importavam diante da sofisticação da proposta. As inúmeras alternativas colocadas em jogo, a possibilidade de gerir impérios, tomar decisões de natureza operacional e estratégica, gerir recursos humanos e materiais, comandar exércitos, assinar tratados de paz, formar alianças diplomáticas, tudo isso fez com que eu percebesse que existia uma bela palavra para definir aquilo: GENIAL. ?? impressionante o que a Microprose conseguiu fazer com tão poucos bytes e Hertz a disposição. Em Civilization como na vida, você é fruto de sua historicidade. Suas decisões passadas afetam suas possibilidades presentes e suas escolhas presentes desenham as alternativas que o futuro colocará diante de você. Civilization é um verdadeiro exercício de gestão e planejamento. Não é a toa que alguns cursos de administração o utilizam em seus níveis introdutórios. A complexidade do jogo atravessa gerações, pois seu conteúdo se revitaliza a cada nova rodada, surgindo um leque de limitações e possibilidades.

Hoje, com a existência dos vários gigas de memória Ram, dos processadores Quad Core e das Placas de Vídeo de 2 gb, é difícil imaginar o quanto aquele jogo de aparência tosca carrega consigo. As inúmeras continuações e sequências do jogo apenas reiteram a genialidade do primogênito. Pois por trás dos belos gráficos e das novas tecnologias inovadoras, a lógica que alicerça os novos civilizations é bastante similar ao game lançado em 1991. ?Clássico? é, portanto, um dos termos mais adequados para descrever esta obra prima.

Para muitos dos jovens atuais, que vivem numa espécie de ?presente contínuo?, acreditando que sua época é tão inovadora e ?avançada? e que suas vidas não possuem nenhuma ligação com o passado público da época em que vivem, civilization é uma aula sobre os condicionamentos históricos e existenciais que atravessam nossas vidas. Para os que acreditam que o status quo atual é eterno, civilization é uma lição sobre a dinâmica das vida, do mundo, da sociedade. ?? uma lição sobre como todos nós podemos (ainda que dentro de determinadas limitações históricas) mudar as coisas que nos são colocadas. Fazendo minhas as palavras do escritor polaco Witold Kula, ?a deificação das forças históricas, que conduz a um sentimento generalizado de impotência e indiferença, torna-se um verdadeiro perigo social; o historiador deve reagir, mostrando que nada está inscrito antecipadamente na realidade e que o homem pode modificar as coisas que lhe são impostas?. Definitivamente, como demonstra o jogo da Microprose, a história não acabou...

Enviado por Homer Simpson,
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