O lado não tão popular das donas de consoles

A indústria de jogos AAA (jogos de grande investimento) é a que sempre gera maior atenção, tanto por conta do seu maior escopo quanto pelo marketing envolvido. No geral, os responsáveis por publicar esses jogos são grandes empresas (EA, Square, Activision etc), donas do próprio videogame (Xbox, PlayStaiton e Nintendo) e alguns poucos estúdios independentes.

Se tratando de jogos grandes, além de claro trabalharem em volta do marketing e escopo, eles também são de gêneros que o pessoal tende a gostar mais de jogar, facilitando sua divulgação boca a boca e número de vendas. Só que por conta disso, os AAA se limitam muito na forma de abordar seus jogos, geralmente evoluindo no máximo em seu próprio gênero. Mesmo jogos famosos como Red Dead Redemption, The Witcher 3, Zelda Breath of the Wild, The Last of Us e Forza Horizon apenas evoluíram algumas fórmulas mais "populares" do seu gênero, seja dando mais liberdade no mundo aberto, sendo mais imersivo com cenas cinematográficas, fornecendo mais detalhes ao mundo aberto e melhorando missões secundárias. No fim, são sempre mecânicas que já eram comuns em AAA e tiveram seus avanços.

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Onde eu quero chegar? Existem gêneros que são mais nichados e que grande parte do público realmente não vai abraçar tanto quanto um desses jogos citados acima. Já pensou uma grande publicadora de jogos produzir um rogue-like, jogo de cartas, rítmico, tático, visual novel ou simulador, focar todo seu marketing nesse jogo e cobrar o preço de cheio de R$300 ou R$350 nele? No fim quem vai realmente gastar seu dinheiro nesse tipo de jogo (considerando que ele seja bom) são os próprios fãs do gênero que ele aborda.

Um bom exemplo disso foi o sumiço do gênero survival horror, restando apenas a Capcom a criar jogos dele. O gênero tentou voltar no fim do ano passado e vários jogos do tipo ainda vão aparecer em 2023, mas é praticamente certo que apenas Resident Evil 4 chegará perto de vender o que os jogos de "grande escopo para as massas" vendem.

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Então esses jogos não tão populares nunca terão um AAA? Apesar de ser mais difícil, ocasionalmente eles podem ter ou já tiveram algum AAA que os representasse e evoluísse de alguma forma o seu gênero. O próprio já citado Resident Evil e Just Dance são jogos que atingem um maior público, apesar de não serem tão populares quanto os grandes AAA citados.

Refletindo um pouco sobre e entendendo que essa limitação comercial existe, já pensaram sobre os jogos first-party (jogos feitos pelas donas de videogame) representarem alguns desses gêneros? Apesar de ser complicado, a PlayStation, Nintendo e Xbox publicaram recentemente alguns jogos desse tipo, com qualidade técnica e gráfica muitos bons para os padrões do gênero. Apesar de existirem questionamentos sobre se os jogos que irei mencionar são realmente AAA, independentemente disso, eles conseguiram trazer uma ótima qualidade técnica e dependendo do ponto de vista até evolução para o gênero que aborda.

O rogue-like é um gênero de jogo usado e abusado pelos desenvolcedores indies, independente de qual seja o motivo. O mercado hoje em dia está bem cheio desse estilo de jogo e já o misturaram com outros gêneros, como cartas, sobrevivência, dungeon crawler e vários outros.

No entanto, isso não é lá muito explorado por grandes empresas, e consequentemente não temos um investimento maior no gênero. Então restou aos estúdios independentes suprirem esse mercado.

Porém a PlayStation Studios trouxe Returnal em 2021 para complementar de forma positiva o gênero. O jogo não apenas foi elogiado com suas boas mecânicas de combate e desafios, mas o jogo finalmente trouxe ótima fidelidade gráfica e que boa parte dos jogos do gênero não conseguem pela falta de investimento.

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Além disso, por conta do PlayStation 5, o jogo conseguiu implementar os recursos do Dualsense e deixá-lo ainda mais imersivo e interessante. Foi inclusive bastante elogiado por conta da boa implementação desses recursos.

Muitos podem considerar o Hades melhor por conta de terem implementado suas mecânicas rogue-like de forma incrivelmente coesa. Ele realmente merece todos os elogios, mas acredito muito também na importância do Returnal por conta de mostrar um rogue-like bem feito e com maior investimento que os habituais.

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Outro gênero abordado majoritariamente por indies é o rhythm-based, ou também chamado de jogo rítmico. Jogos como Soundfall, Metal Hellsinger, Beat Saber e vários outros.

Existe o Just Dance da Ubisoft que é um jogo maior para variar, além de alguns da Square Enix que são de menor orçamento. Mas no geral, eles seguem a mesma premissa de acertar o tempo correto da batida da música para pontuar e as vezes conseguir alguns bônus.

E como supresa para os jogadores e para o gênero, em 2023 o Xbox trouxe Hi-Fi Rush, um jogo rítmico mesclado com um combate hack 'n slash. Porém diferente do Returnal, ele provavelmente custa bem menos por conta de ter tido menor investimento, mas ainda assim trouxe muita qualidade e diversão para os amantes do gênero.

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Geralmente esses jogos rítmicos são focados mais em pontuações ou finalizar o jogo passando certos desafios. Hi-Fi Rush também possui esses recursos, mas por outro lado também inclui um ótimo humor, gráficos e animações bem feitas, personagens carismático e outros recursos bem interessantes.

Mas acredito que a parte mais importante e interessante para o gênero é em como ele brinca com as mecânicas de rítmo. O jogo possui uma boa variedade da forma de lidar com ritmo: acertar ataques na batida da música, usar parry no ritmo dos ataques do inimigo, quick time events (QTE) e mecânica parecida com Guitar Hero (e outros jogos do estilo).

Apesar de ele ser também em partes um jogo de ação, foi uma novidade muito legal para o gênero rítmico.

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Não podemos esquecer o gênero rpg tático que é tão popular entre certa comunidade, mas ainda assim não é tão bem vendido quanto as referências citadas no topo do texto. O gênero também é dominado por estúdios independentes, apesar de existirem algumas publicadoras que também criam jogos do tipo.

Resumindo esse tipo de jogo, o jogador deverá se preocupar não apenas com os status e habilidades dos personagens, mas também com seu posicionamento em campo, pois a soma disso tudo, se bem feito, pode resultar na vitória do jogador. Também pode existir a diferença entre rpg tático ocidental de oriental, pois o ocidental geralmente traz maiores recursos e interpretação de personagens enquanto o oriental tem uma história e personagens mais definidos.

Mas abordando o gênero em geral, o jogo pode ser até bonito graficamente como o Divinity 2, mas dificilmente será trabalhado com cinemáticas bem feitas e boas animações, focando geralmente mais na parte estratégica e história. Então é aqui que vi um pequeno diferencial em Fire Emblem Engage.

Fire Emblem Engage também é um rpg tático e trouxe novas mecânicas para a franquia, mesmo já possuindo vários jogos. Apesar de muitos criticarem a história do jogo, as mecânicas novas foram bem vindas e ele aborda de forma bem interessante os visuais e animações.

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Como eu disse anteriormente, pode ter pessoas que questionem se ele é mesmo um AAA, mas por pelo menos ter a Nintendo por trás do jogo ele conseguiu ter cinemáticas e animações muito bem feitas. É muito bacana o quão dinâmico fica o combate ao mostrar as animações dos personagens atacando (ou recebendo dano), como se fosse um jogo realmente de ação. Então pelo menos na questão de mecânicas e principalmente nos visuais, o jogo conseguiu ser um bom destaque do gênero e que vale o teste.

Com certeza existem alguns outros exemplos de jogos nichados desenvolvidos pelas criadoras de videogame, mas esse é um pequeno exemplo de como é interessante ver que elas podem fazer algo a mais com determinados gêneros por ter um investimento maior por trás.

Algumas publicadoras também conseguem as vezes desenvolver um jogo de gênero mais nichado mas com maior investimento, como o Yakuza Like a Dragon por exemplo que tranformou de forma positiva uma franquia de ação em uma de turnos. E mesmo com essa mudança e vários jogos do tipo no mercado, ainda consegue trazer seus próprios diferenciais e melhorias que são possíveis com o maior investimento feito.

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Por outro lado, vemos também empresas que mudam o gênero padrão de turno da franquia para um de ação, já que é mais popular e tem maiores chances de atingir mais pessoas. No fim da contas, nenhum dos dois casos realmente está errado, pois acredito que o ideal é que o jogo saia bem feito e se possível com um diferencial em relação a outros do mesmo gênero, principalmente se tiver um alto investimento por trás.

Mas de qualquer forma, é muito legal quando as empresas tentam investir mais em gêneros que não são tão populares e conseguem trazer melhorias e as vezes até algo único. Sabemos que é arriscado esse tipo de decisão, mas é algo que permite a variedade de bons jogos disponíveis no mercado.