Entre a censura e o Steam, os desenvolvedores indie chineses estão presos a um fio

IMAGEaHR0cHM6Ly9pLmltZ3VyLmNvbS9lTlJBclo4LmpwZw==

Illustração de Jenna Kwon https://www.kwonniestudio.com/

Como as regulamentações governamentais e as súbitas mudanças no mercado ameaçam o crescente cenário indie da China.

A oeste das torres de néon do distrito de Pudong em Xangai, ao longo do rio Wusong, que serpenteia por uma parte mais tranquila da cidade, algumas centenas de desenvolvedores estão desafiando as convenções da incomparável indústria de videogames da China, que custa US $ 33 bilhões.

Em um mercado definido por jogos online gratuitos, o termo "indie" não significa muito para muitos jogadores chineses. Mas isso não impede que mais de 10.000 participantes se reúnam no primeiro andar do enorme Centro de Convenções e Exposições de Internacional Sourcing de Xangai para mostrar e celebrar jogos indie chineses. Chamada WePlay Game Expo, esta conferência é a única desse tipo na China - um paraíso para uma cena indie incipiente, cujo futuro depende quase inteiramente dos regulamentos do governo da China e, surpreendentemente, de uma empresa sediada em Seattle: Valve.

A China tem mais jogadores do que em qualquer outro lugar do mundo (cerca de 800 milhões), mas sua indústria está saturada com os mesmos jogos para celular e PC gratuitos - mais vazios com esquemas de pagamento a ganhar e caixas de saque - que reinaram supremas desde que os jogos online explodiram em meados dos anos 2000. A WePlay Game Expo e os desenvolvedores que estão participando estão procurando mudar isso.

É como uma versão em miniatura do PAX West, a convenção americana de jogos que invade o centro de Seattle a cada agosto. Embora existam alguns jogos internacionais de grande orçamento (um estande da 2K Games com a aparência divina do icônico Psycho de Borderlands 3 me cumprimenta enquanto eu entro), mais profundamente no movimento da multidão é onde estão as coisas mais legais.

Perto do meio do corredor, um par de cosplayers de Touhou luta para controlar robôs adoráveis ​​em um jogo chamado Biped. Sou atraído pela estética bonitinha, mas o Biped se revela rapidamente como um sinistro cruzamento entre QWOP e Overcooked, um jogo de plataformas cooperativo em que o simples ato de mover exige um nível incomum de destreza. É um tipo maravilhoso de jogo que pode levar as amizades ao limite.

Apenas alguns anos atrás, uma cena como essa provavelmente teria sido impossível na China. A duração ou não da duração permanece incerta.

Wesley Bao é o fundador da Coconut Island Games, uma das poucas editoras e desenvolvedores independentes da China, e estima que apenas uma pequena fração dos 800 milhões de jogadores da China compra regularmente jogos independentes.

O próprio Bao nem sabia do conceito de 'indie' como uma cultura estética ou de desenvolvimento de jogos até anos após a fundação de Coconut Island. "A Ilha dos Cocos começou em 2009 e, na época, todos os jogos na China eram MMORPGs ou jogos on-line", diz ele. "Esses tipos de jogos são todos gratuitos, mas queríamos fazer algo novo. Depois que começamos, encontrei um termo chamado 'jogos indie' na internet e pensei: tudo bem, podemos ser jogos indie".

Bao estava anos à frente da curva. Em 2015, o Steam adicionou suporte para opções de pagamento chinesas como a Alipay, expondo alguns milhões de jogadores chineses a um mercado maciço e não regulamentado de jogos, muitos dos quais foram feitos independentemente. O público chinês do Steam dobrou em apenas um ano. E quando os Campos de Batalha do PlayerUnknown se tornaram um fenômeno em 2017, dobraram novamente. Atualmente, existem cerca de 30 milhões de usuários chineses no Steam, tornando a China uma das maiores informações demográficas do Steam.

WHpFaGFSdkEtVTg=

O fato de os jogos online gratuitos terem se tornado o padrão na China deve-se em grande parte à proibição de 15 anos em consoles de jogos em junho de 2000 e ao custo proibitivo de jogar jogos de PC na época. Para muitos jogadores chineses de PC, a pirataria ou os cibercafés eram a única opção. Para se adaptar, os desenvolvedores de jogos chineses começaram a tratar seus jogos como um serviço, tornando-os livres para jogar, mas monetizando as atividades no jogo para recuperar seus custos. Isso, por sua vez, inspirou a crença predominante de que os jogadores chineses só queriam MMOs sujos e gratuitos para jogar.

Na última década, pessoas como Wesley Bao começaram a desafiar essa crença. Observando o surpreendente sucesso de alguns jogos experimentais de arte na loja chinesa da Apple e exposto a comunidades internacionais de jogos por meio de eventos como a Game Developers Conference, Bao se inspirou nos jogos indie explodindo no mainstream e queria promover um tipo semelhante de renascimento no mundo. China. "Não havia comunidade aqui", explica Bao. "Então tivemos que fazer um. No final de 2011, começamos o primeiro game jam na China."

Apenas um punhado de desenvolvedores apareceu no primeiro game jam de Coconut Island. Mas à medida que a ideia se espalhava e outros organizadores se envolviam, como o WePlay Expo e o fundador da Chinese Indie Game Alliance, Simon Zhu, os congestionamentos se espalharam por dezenas de cidades, às vezes hospedando centenas de desenvolvedores.

"Nossa visão é criar jogos impactantes. Achamos que os jogos não são apenas entretenimento, devem ser como filmes ou música. Eles podem ser arte e podem ter um impacto cultural na sociedade", diz Bao enquanto sentamos apenas fora do salão principal de convenções. A apenas alguns metros de nós, o estande da Coconut Island Games é uma prova dessa visão. Tem o estilo de uma sala de aula chinesa, mesas de madeira completas, onde laptops e até uma televisão CRT antiga atraem os participantes com demos dos jogos mais recentes de Coconut Island. "Temos muitas opiniões sobre a sociedade - muitas coisas sobre as quais temos uma opinião diferente e queremos nos expressar".

IMAGEaHR0cHM6Ly9pLmltZ3VyLmNvbS9IaGFJMUNULmpwZw==

Esse desejo de expressão emocional e comentários culturais é o que fez da parceria de Coconut Island com os desenvolvedores dos Pais Chineses um ajuste perfeito. Desenvolvido pela Moyuwan Games, uma equipe de três pessoas, o Chinese Parents é um olhar perspicaz, comovente e muitas vezes hilário sobre o estresse de crescer na China moderna. Meio jogo de quebra-cabeça, meia vida sim, o objetivo é equilibrar o desenvolvimento pessoal, o divertimento e as crescentes expectativas de sua família e do rigoroso sistema educacional da China.

Os Pais Chineses foram lançados no Steam em setembro de 2018 e rapidamente subiram para o topo da lista global de mais vendidos do Steam, provando a crença de Bao de que os jogadores chineses não estavam interessados ​​apenas em MMOs gratuitos. Embora o Chinese Parents estivesse disponível apenas em chinês simplificado, ele vendeu bem mais de um milhão de cópias - metade das quais veio do Steam.

Pais chineses não é o único jogo a desafiar o estereótipo. Em um Starbucks, logo atrás do centro de convenções, me encosto em um canto com alguns dos desenvolvedores de O Pergaminho de Taiwu. Como os pais chineses, o The Scroll of Taiwu foi lançado no Steam em setembro de 2018 e logo se tornou um best-seller global. "Quase perdemos a cabeça", diz Adam, diretor de arte de O Pergaminho de Taiwu, enquanto toma um chá gelado. "Estávamos totalmente loucos por isso".

Semelhante aos pais chineses, The Scroll of Taiwu foi feito por apenas algumas pessoas, embora originalmente fosse um projeto de paixão de um desenvolvedor solo chamado Jay. Adam e outro desenvolvedor, que leva o apelido de Dinosaur, se juntou à equipe mais tarde, juntamente com outro programador que saiu rapidamente porque o Taiwu era "muito complicado" de se fazer. E, acredite, o Pergaminho de Taiwu é complicado. Misturando elementos de roguelikes e business sims, The Scroll of Taiwu é um RPG sandbox intricadamente simulado sobre a reconstrução de uma dinastia familiar inspirada em Wuxia, um gênero de ficção chinesa focado em guerreiros e artistas marciais maiores do que a vida.

TGsxdER1b3h3OE0=

Sem programador, Adam diz que Jay precisou aprender a codificar sozinho. Por três anos, ele trabalhou no trabalho de construção desde o início da manhã até o meio-dia e depois ficou até as 3 da manhã trabalhando no The Scroll of Taiwu. Durante esse período, Adam também apostou em tudo e deixou o emprego para trabalhar no projeto em tempo integral. O que os manteve indo foi a convicção de que "as pessoas estavam querendo um novo jogo, um jogo diferente", diz Adam. "Não apenas com uma história interessante e bonita, mas também com mecânica de jogo complicada apenas para jogadores hardcore - não para jogadores casuais".

O Pergaminho de Taiwu forneceu exatamente isso. "Chegamos a 300.000 cópias vendidas na primeira semana", continua Adam. "Agora, o total é de mais de 2 milhões e ainda vendemos cerca de 2.000 cópias por dia." Parece inacreditável. 90% das pessoas que possuem nosso jogo são da China. "

É fácil focar em histórias de sucesso como O Pergaminho de Taiwu e Pais Chineses, mas a realidade é que a maioria dos desenvolvedores indie chineses - assim como os desenvolvedores independentes em qualquer lugar do mundo - deixará de conseguir um jogo financeiramente bem-sucedido. Isso não é por falta de paixão ou talento.

Aninhado no canto de trás do WePlay, um grupo de desenvolvedores independentes fica ao lado de estações de demonstração para seus jogos, esperando que os breves vislumbres de ação possam atrair os participantes que passam. Um jogo reuniu uma pequena multidão de espectadores assistindo a um duelo tenso entre um jogador e um demônio gigante de macaco. Chamado Exorcista Oriental, este RPG de ação o viaja através de aldeias e florestas misteriosas e pintadas à mão, lutando contra antigos demônios e espíritos chineses. Embora o combate obviamente pegue emprestado de Sekiro, fiquei intrigado com uma cena aproximadamente traduzida, na qual o personagem principal salva um espírito de raposa capturado de um grupo de seus companheiros matadores de demônios.

A alguns metros de distância está um jogo chamado Self, uma aventura surrealista de estilo "kafka" sobre um garoto tentando encontrar seu pai desaparecido, apesar de ninguém perceber que ele se foi. O pouco que eu toquei foi fascinantemente bizarro, fazendo uso surpreendente de seus gráficos econômicos de 4 bits para criar a mesma tensão provocada por uma transmissão de televisão de emergência.

YVo3MnRndi1tMGM=

Embora não estivesse no show, A Gay's Life é uma jornada introspectiva que explora o estigma social que cerca a homossexualidade na China. Parcialmente uma autobiografia, a história obriga a navegar em situações sociais difíceis, escolhendo entre ser fiel a si mesmo ou ceder às pressões sociais e familiares. Tudo isso é resumido por uma pontuação de auto-aceitação que representa como você internalizou sua própria orientação sexual e, ao mesmo tempo, respondeu às percepções das pessoas ao seu redor. As múltiplas terminações, disseram-me, podem variar muito, desde chegar com sucesso à sua família até ser coagido à terapia de conversão de choque.

Outro jogo, o Rhythm Fighter, é uma fusão entre o One Finger Death Punch e o Crypt of the Necrodancer, do tipo roguelino - exceto que você está lutando contra vegetais mutantes. Os níveis são gerados aleatoriamente e há um monte de habilidades e itens para encontrar, mas o que eu mais amo são a estética dos desenhos animados e os personagens principais adoráveis ​​- um é um cachorro que se vestiu como Snake do Metal Gear Solid. Enquanto eu ando de cabine em cabine, experimentando novos jogos e conversando com seus desenvolvedores, seu entusiasmo é enfatizado por uma incerteza preocupante sobre o futuro.

cHFMVlZ4c1REa1k=

A enorme indústria de videogames da China está começando a estagnar, de acordo com muitos dos desenvolvedores com quem conversei. Parte desse motivo se deve simplesmente à saturação excessiva de jogos semelhantes, mas também tem muito a ver com os regulamentos e a censura cada vez mais pesados ​​do governo chinês.

Durante décadas, o governo chinês impôs rigorosa censura a todos os meios de comunicação e informações. Um firewall generalizado bloqueia o acesso ao Google, Facebook, Twitch e centenas de outros sites. Mas, estranhamente, o Steam não é um deles. Apesar de seu enorme mercado de jogos não regulamentados, o Steam é facilmente acessado na China. Somente seus recursos da Comunidade Steam, como fóruns, estão desativados e ninguém sabe realmente se foi isso que o governo chinês fez ou que a Valve agiu preventivamente. Para os desenvolvedores independentes da China, o Steam é uma brecha inestimável em um sistema burocrático que, de outra forma, os destruiria.

Para publicar legalmente um jogo na China, os desenvolvedores devem primeiro obter a licença adequada. Isso exige que o seu jogo seja submetido à revisão da Administração Estatal de Imprensa e Publicação, que examina os jogos para garantir que eles cumpram as regras estritas da China. Isso inclui tudo, desde não ter sangue e sangue, conteúdo sexual ou temas que são contrários aos valores sancionados pelo Estado da China. Olhando em volta para os vários jogos independentes do WePlay, rapidamente perco a conta dos jogos que podem violar uma dessas regras.

IMAGEaHR0cHM6Ly9pLmltZ3VyLmNvbS9yR3dsWnR5LmpwZw==

Mais recentemente, o governo determinou que os desenvolvedores implementassem medidas anti-dependência como toque de recolher e limites de tempo de jogo por dia. Jogos como League of Legends e World of Warcraft começarão os menores depois de apenas duas horas de jogo. "O governo é muito rigoroso com todo o conteúdo dos jogos", diz um desenvolvedor. Ele, junto com todos os outros desenvolvedores que falaram especificamente sobre o governo, pediu para permanecer anônimo. "Por causa disso, os jogos que podem ser publicados a cada ano serão muito poucos em comparação com dois anos atrás, e os investidores também serão muito, muito poucos."

"Queremos fazer bons jogos e queremos liberdade de expressão, só precisamos ter cuidado para permanecer dentro das regras", diz outro desenvolvedor.

"É muito barato enviar um jogo para licenciamento, mas leva muito tempo e é isso que custa", diz um desenvolvedor anônimo. Disseram-me que o processo de licenciamento pode levar até seis meses, mas ninguém sabe ao certo. Os jogos são processados ​​na ordem em que são enviados e, no ano passado, muitos tiveram que esperar muito mais que o normal, enquanto os censores agitaram uma enorme lista de pendências devido a reformas que viram o processo de licenciamento da China em espera por nove meses. Uma grande empresa pode ver isso como o custo de fazer negócios, mas, para os desenvolvedores independentes da China, que frequentemente estão tentando terminar seus jogos, esperar meses para obter uma licença pode significar ruína financeira.

É por isso que o Steam se tornou uma linha de vida inestimável para a pequena comunidade indie da China. "Eu diria que 100% da cena indie da China está viva por causa do Steam", diz Zifei Wu, presidente do desenvolvedor do My Time na Portia, Pathea Games.

Os jogos para PC costumam ser comemorados como uma plataforma aberta, onde os jogadores têm a opção de controlar todos os detalhes de sua experiência - onde comprar jogos e como jogá-los. Mas a dependência que os desenvolvedores chineses têm do Steam para sobreviver é um lembrete de que a experiência de jogar e criar jogos no PC está longe de ser universal. "Se o Steam não estivesse disponível, não estaríamos fazendo isso", diz outro desenvolvedor anônimo. "Acho que esse é provavelmente o caso da maioria dos desenvolvedores na China".

"O vapor é 100% a coisa mais importante para a nossa sobrevivência", diz um desenvolvedor diferente. "Dois anos atrás, eu não estava na indústria de jogos, e o Steam é a única razão pela qual posso sobreviver."

Graças ao Steam, qualquer desenvolvedor chinês pode evitar o processo de aprovações e iniciar o jogo imediatamente. E, embora os 30 milhões de usuários chineses do Steam sejam pequenos em comparação com a população geral de jogos, é mais do que suficiente para sustentar os desenvolvedores independentes da China. Mas, como as regulamentações em constante mudança do governo, isso pode mudar a qualquer momento.

Este ano, a Valve e seu parceiro de negócios chinês Perfect World têm planos de lançar uma versão do Steam que é apenas para a China. Um benefício prometido são os servidores locais que garantirão uma experiência multijogador mais estável, mas a desvantagem é que a Steam China venderá apenas jogos devidamente licenciados pelo governo.

A grande questão é o que acontece com a atual versão "global" do Steam quando o Steam China for lançado ainda este ano. A Steam China vai substituir o Steam? Em entrevista à Eurogamer, o DJ Powers da Valve disse que era o "objetivo" da Valve garantir que os jogadores não perdessem o acesso à sua biblioteca, salvamentos ou outros dados. Ele também disse que "nada mudará no Steam global", mas nenhum dos desenvolvedores com quem falei sobre o Steam China se consolou com essas observações vagas.

IMAGEaHR0cHM6Ly9pLmltZ3VyLmNvbS91clZDVGpQLmpwZw==

"O Steam China é aterrorizante", diz um desenvolvedor anônimo. "É horrível. Não tenho certeza do que será, mas espero que os jogadores ainda possam acessar o Steam internacional".

Se o Steam for bloqueado, poderá devastar a comunidade indie da China.

O problema, me disseram, está em grande parte na maneira como o firewall da China opera. Não é segredo que as VPNs podem ser usadas para passar pela censura chinesa e acessar sites restritos, mas esse método não é consistente. Durante meu período em Xangai, minha capacidade de acessar sites como o Google usando uma VPN nunca foi uma garantia. Às vezes funcionava, muitas vezes não.

Naturalmente, o governo da China não explica como o firewall funciona. O poder, me disseram, vem de manter seus cidadãos no escuro. Os intermináveis ​​rumores e especulações criam um tipo de ruído branco que torna impossível saber ao certo o que está acontecendo ou, mais crucialmente, o que pode acontecer a seguir.

Várias fontes dizem que o acesso a conexões criptografadas varia com o clima político da China. Durante tempos de agitação política, como os distúrbios de Hong Kong, as conexões VPN não funcionam para muitos cidadãos chineses. Então, com o tempo, eles misteriosamente começarão a trabalhar novamente. É um fluxo e refluxo impulsionado pela dicotomia do governo autoritário da China e do setor empresarial privado capitalista.

"A realidade é que o governo tem a capacidade de interromper totalmente o acesso à internet externa, mas prefere não fazê-lo, porque isso impediria os negócios e dificultaria demais a economia da China", afirma um desenvolvedor. "Goste ou não, as empresas chinesas precisam de alguma medida de acesso ao mundo externo para ganhar dinheiro. Mas o objetivo é adicionar o máximo de atrito possível ao processo, para torná-lo uma enorme dor de cabeça para o usuário médio, para impedi-los de usar VPNs ".

IMAGEaHR0cHM6Ly9pLmltZ3VyLmNvbS84Wll3Tk1XLmpwZw==

Se o Steam estiver bloqueado, tecnicamente ainda estará acessível via VPN. Mas esse atrito constante provavelmente forçaria muitos de seus 30 milhões de usuários a jogar em outros lugares e apresentaria grandes problemas para os desenvolvedores. É fácil imaginar o dano de ter um patch crítico atrasado pelo acesso não confiável ao Steam, ou nem mesmo receber o feedback necessário para fazer esse patch em primeiro lugar.

Juntamente com rígidas regulamentações governamentais e com a sensação geral de que sua indústria de videogames está começando a estagnar, os desenvolvedores independentes da China estão em uma situação difícil. Ninguém sabe o que vem a seguir, mas os piores cenários estão à frente. O que está claro, um desenvolvedor me diz, é que os jogos indie chineses não podem confiar em sua turbulenta indústria doméstica. Se as indies chinesas quiserem sobreviver, elas precisam se tornar globais. Quase todos os jogos independentes que vi neste fim de semana estavam trabalhando na localização em inglês. Considerando como a cultura japonesa, européia e norte-americana influenciou os jogos, estou empolgado por um dia podermos ter mais RPGs que exploram a mitologia chinesa ou jogos que, como os pais chineses, dão uma ideia dos bolsões fascinantes da vida na China.

Por mais incerto que seja o futuro para esses jogos, o Steam ainda é o melhor caminho a seguir. Mas isso também significa que as pessoas que os fazem terão que continuar vivendo com o desconforto de saber que seus meios de sobrevivência podem desaparecer a qualquer momento. Ao me sentar com Wesley Bao, do lado de fora do salão de convenções, pergunto por que ele persiste diante de toda essa censura, burocracia e adversidade. "Adoramos jogos", diz Bao, sorrindo. "Realmente não temos outra escolha. Fazer jogos é a nossa vida."