Em Silent Hill Downpour, o terror é so de mentirinha

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É complicado olhar para Silent Hill com brilho nos olhos depois dos medianos Origins (2007) e Shattered Memories (2009), e do fracasso americanizado que foi Homecoming (2008). Normal, então, que até a sua mãe desconfiasse de Silent Hill Downpour, da iniciante Vatra Games, principalmente depois das acusações de "clone de Alan Wake". A boa notícia é que ele consegue se dar bem por conta própria, mas não vai botar medo em ninguém.

Downpour prova que ainda há esperanças para Silent Hill, apesar dos sinais de decadência da série, e que ainda é possível fazer um bom Survival Horror à moda antiga, mesmo em 2012. Pena que, apesar de todos os esforços e de ser um bom jogo de modo geral, não existe terror aqui, e isso é um problema grave.

Principalmente porque nós contamos com Silent Hill para honrar essa história de sentir medo nos games, já que a situação hoje é quase alarmante. Dead Space é uma série bacana, mas que corre risco de desvirtuar para a ação pura. Temos dezenas de outras séries que morreram, estão morrendo ou tiveram seus valores desvirtuados após meados dos anos 2000 (Oi, Resident Evil). E temos Alan Wake que… bem, é Alan Wake.

Mas Downpour se sai melhor do que eu esperava, mesmo não tendo a trilha sonora de Akira Yamaoka e nem os inesquecíveis monstros bizarros de outrora.

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Bem-vindo à Silent Hill (de novo)

Murphy Pendleton é um presidiário com um passado misterioso e moralmente ambíguo – como todos os presidiários protagonistas desde que o mundo é mundo. Durante a transferência de Pendleton de um presídio para outro, você descobre que havia uma Silent Hill no meio do caminho. O ônibus capota, Murphy foge das GARRAS DA LEI (ou será que se livra de um destino injusto?) e vai parar na nossa cidadezinha abandonada favorita.

Ao contrário da maioria dos heróis da série, Pendleton não tem motivo nenhum para continuar em Silent Hill. Nem filha desaparecida, nem esposa morta, nem irmãozinho caçula. Ele só quer fugir dali, e essa mudança é interessante. Traz boas oportunidades narrativas e faz perfeito sentido no contexto do personagem que foge tanto da polícia quanto de si mesmo.

Murphy, aliás, é um ótimo personagem, apesar do clichê-presidiário. Suas motivações e suas reações fazem sentido na situação em que ele se encontra, e a dublagem competente do desconhecido David Boyd Konrad ajuda a preencher o vazio. Mas como qualquer fã de Silent Hill já deve saber, o personagem mais legal de qualquer jogo da série sempre vai ser a cidade.

E a Silent Hill de Downpour é bem legal. Não exatamente por ser assustadora ou opressora, características que já estão em falta nos becos da cidadezinha desde Origins, mas por ter cara de cidade de verdade. Ela é mais aberta, mais explorável, recheada de missões secundárias com recompensas tentadoras e easter eggs que lembram jogos anteriores.

Ela ainda deixa você perdido e desorientado, mas acredito que isso seja intencional. Enquanto Dead Space oferece um "GPS" e Alan Wake é linear como uma rota de metrô, Downpour não pega na sua mão nem aponta a direção. Você tem um mapa, alguns pontos de interrogação e… é isso aí.

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Irritação à moda antiga

A primeira hora de Downpour é bastante linear. Mas logo que você entra de vez em Silent Hill, o mundo se abre de forma vertiginosa. Fiquei irritado, xinguei, considerei até assumir a desonra de buscar um walkthrough por aí. Mas percebi, enfim, que eu só estava acostumado demais com as experiências enlatadas dos jogos da atual geração – aqueles que indicam caminhos, piscam setas e dão ordens. Eu tinha esquecido o quão exigente pode ser um jogo que simplesmente obriga você a pensar.

Downpour tem o clima, a cara e até os defeitos dos survival horrors das décadas passadas. Puzzles dificílimos e cansativos, momentos de completo desamparo e aquele combate travado e irritante que faz você querer fugir em 99% dos confrontos.

Quem passou tempo demais nos jogos-tutorial dos últimos anos, vai demorar certo tempo para recalibrar o cérebro para o tom mais rústico e o ritmo mais espaçado de Downpour. Quem nunca jogou nada além dos jogos-tutoriais vai se sentir assistindo um filme impressionista francês dos anos 50.

E enquanto minha linha do tempo do Facebook fica cada vez mais recheada de memes mostrando como "os jogos das antigas eram mais legais", eu fico aqui me perguntando se essa jogabilidade semi-retrô de Downpour é realmente uma coisa boa. Porque eu, ex-jogador de Alone in The Dark (nunca te esqueceremos), me diverti bastante com as possibilidades de exploração e os puzzles sensacionais. Mas meu primo de 11 anos, que curte um filme de terror e pensa em "shooter de ação" quando eu falo sobre Resident Evil, detestou. Estamos diante de um jogo feito para os fãs das antigas, ou um jogo que teve medo de buscar novas alternativas para resgatar um gênero decadente?

Noites do terror

Foram muito raros os momentos em que Downpour me deixou realmente assustado (e este sou eu pagando de machão para a turminha da 5ª série), com receio de abrir aquela porta ou virar um corredor. Levando em conta que estamos falando de Silent Hill, e não de My Horse Club, isso é uma falha grave.

Todos esses "downgrades" intencionais nas mecânicas do jogo deveriam facilitar a absorção do clima de terror. O combate é ruim para simular a nossa relação de impotência com as ameaças da cidade. A falta de linearidade promove a desorientação e o desamparo. O jogo usa até mesmo, em determinados momentos, o recurso da câmera fixa – elemento-chave para "nublar" os perigos e surpreender o jogador nos survival horrors das antigas.

Mas então por que nada funcionou? Talvez porque, tão preocupada em emular um Silent Hill velha-guarda nos nossos consoles de última geração, a Vatra Games se esqueceu de que o que realmente tornou essa uma das melhores e mais assustadoras séries de terror de todos os tempos não foi seu combate irritantemente travado ou as câmeras com ângulos bizarros – até porque, naquela época, esses elementos não eram exatamente intencionais.

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O que tornava Silent Hill 2, por exemplo, tão aterrador, era a construção gradual, lenta e meticulosa de uma atmosfera opressora de solidão e desespero, de angústia e ansiedade. Eram os simbolismos friamente embutidos naquelas enfermeiras, ao mesmo tempo gostosas e grotescas, sendo empaladas na nossa frente pelo Pyramid Head.

Era também a música industrial e aflitiva de Akira Yamaoka aliada a um design de som impecável, como nos chiados do rádio que iam lentamente aumentando em escala conforme uma ameaça se aproximava só para simplesmente ficarem mudos logo em seguida, fazendo você se perguntar para onde aquele filhote de capeta havia se metido.

E esse toque de mestre, essa preocupação excessiva com os detalhes e essa minúcia nipônica com cada um dos elementos do jogo, isso é algo que Downpour não alcança na sua tentativa de survival horror moderno. Ele está distraído demais exumando mecânicas para se preocupar com os constantes ajustes necessários em uma verdadeira atmosfera de terror.

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O design dos poucos tipos de monstros do jogo parece ter sido aleatoriamente tirado de um filme de terror trash. Eles são previsíveis, repetitivos, muito mais irritantes do que amedrontadores. Você corre deles porque é mais fácil correr, não porque eles fazem você tremer com o controle nas mãos.

E apesar de Daniel Licht ser um substituto à altura para Akira Yamaoka, o design de som do jogo é horrível. Mesmo com as excelentes músicas criadas pelo compositor da trilha de Dexter, boa parte das lutas e cenas mais pesadas do jogo acontecem no silêncio absoluto. É como se você tivesse um Matthew Bellamy na sua banda, mas mandasse ele tocar bongô em vez de guitarra.

No fim das contas, Silent Hill Downpour é um jogo bom, mas frustrante. Bom porque tem tudo o que um bom jogo precisava ter para ser bom em 2002, e isso provou não ser algo tão horrível de engolir em 2012 – só demora um pouco para pegar o jeito. Frustrante porque nós sabemos, do começo ao fim, que ele poderia ser muito mais do que é. Apesar de a massa ser crocante e bem recheada, faltou a cobertura, uma cerejinha, quem sabe até algumas velinhas. O tipo de coisa que faz você ficar olhando para trás à cada 10 segundos nos corredores de Dead Space.

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Downpour é mais uma tentativa da Konami de recuperar a velha forma de sua conceituada série de Terror. Ele é intencionalmente lento, travado e confuso – características que o aproximam de um survival horror das antigas. Quem gosta de ser desafiado com puzzles inteligentes e uma história interessante vai aproveitar as 10 horas que Downpour oferece. Quem achou que Dead Space foi um enorme avanço para o gênero de terror com sua ação acelerada e frenética vai achar o novo Silent Hill tedioso e frustrante.

Só não espere por pesadelos eternos. Downpour é bom, mas o terror é de mentirinha.

Plataforma: Xbox 360, PlayStation 3 (testamos a versão de Xbox 360, enviada pela Konami)

Desenvolvimento: Vatra Games

Distribuição: Konami

Lançamento: 21 de fevereiro de 2012 nos EUA (20 de março no Brasil, por R$ 199,90)

Bom Galera. qualquer erro so avisar ^^

Anônimo
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