Quem jogou Mega Drive na vida vai se lembrar do game de aventura Ecco the Dolphin, desenvolvido por Ed Annunziata e que na década de 90 foi um grande sucesso. Você podia controlar um golfinho, quase como num simulador de vida marinha. O personagem protagonista era Ecco, que fazia viagens ao longo do tempo para enfrentar aliens que invadiram os oceanos. O jogo iniciava com o golfinho nadando em uma baía bastante calma, até que um turbilhão no céu suga toda a vida existente no mar – exceto Ecco, que consegue escapar.
Em 96, no Brasil, foi lançado Ecco: The Tides of Time, e esse novo jogo seguia a mesma linha do primeiro, mas com a possibilidade de jogar uma fase usando o corpo de uma gaivota, outra como tubarão e até mesmo como água-viva. Foi nessa época que, com 9 anos, a brasileira Paola Giometti começou a jogar os jogos da franquia, e Ecco the Dolphin e Ecco: The Tides of Time rapidamente se tornaram os seus games favoritos, e o golfinho, seu animal favorito. Inspirada pela trilha sonora - que para os 16 bits era uma verdadeira obra de arte - e motivada pela história de Ecco, Paola publicou seu primeiro livro aos 11 anos, intitulado Noite ao Amanhecer, e com ele - em 1996 - tornou-se a escritora mais jovem do Brasil. Após 24 anos, em 2020, Paola relança o livro pela editora Elo como um tributo a Ecco, e com o intuito de levar às pessoas a vida dos cetáceos mais para perto delas, mesmo para as que não jogam video games.
Noite ao Amanhecer conta a história do golfinho Physter, que presencia o momento em que seu cardume e a vida no mar foram levados por águas obscuras, lodosas, e com certa “alma” maligna. Na aventura submarina, Physter (nome inspirado no gênero Physeter, representado pelos cachalotes) viaja para longínquos oceanos na companhia dos ancestrais das baleias, das jamantas e golfinhos à procura do que todos chamam de Geoffrensis, que na realidade é um minério que guarda o poder do deus dos Cetáceos, capaz de conferir alguns poderes, como por exemplo, uma vibracão vocal capaz de corromper o lodo “maligno” das águas. Physter, por fim, irá se deparar com perigosas criaturas denominadas Kiwaxes, que crescem nos abismos e que sobem à superfície para devorar o que restou de vida. Ao mesmo tempo, Physter terá que nadar rápido para impedir que as águas lodosas subam com a maré negra e traga para os oceanos noite ao amanhecer.
“O jogo foi tão importante na minha infância que determinou muito do que hoje sou”, comenta Paola que é bióloga com PhD em Ciências, trabalhando hoje com pesquisa em uma universidade ao norte da Noruega e também conhecida por ter publicado uma série de livros chamada Fábulas da Terra, que conta histórias de animais em contexto selvagem. “Além da homenagem aos jogos de Ed Annunziata, gostaria de trazer à nova geração o sentimento que tive quando joguei Ecco pela primeira vez”, complementa Paola.
Quem é fã de Ecco provavelmente vai se lembrar que os níveis dos jogos tinham títulos. Fin to Feather é uma fase onde Ecco pode se transformar em uma gaivota e sobrevoar uma colina para atingir um novo nível. Em Noite ao Amanhecer, Physter usa uma pena para flutuar por sobre um fiorde, alcancar uma montanha onde o ancestral das jamantas protege o mineral Geoffrensis. Além disso, Paola usou o estranho crustáceo kiwax, de águas vulcânicas e que tem aparência ameaçadora para fazer um paralelo com os inimigos aliens e a rainha Vortex, de Ecco.
Outra curiosa referência ao game foi o uso dos cristais, pois Paola cita o quartzo, presente nas areias do oceano como uma importante fonte de energia que conecta os oceanos à ancestralidade das criaturas. Em Noite ao Amanhecer, as águas lodosas subiriam com a maré cheia, aniquilando com essa importante conexão entre o presente e o passado.
Noite ao Amanhecer será relançado em julho de 2020, e por ter se tornado um manual sobre animais marinhos, ganhará também a versão em libras e audiodescrição pela Elo Editora para que possa ser acessível à todos.
Para saber mais acesse: https://eloeditora.com.br e www.paolagiometti.com.br