Projeto 2125: Um Errante do Tempo Capitulo 1 (esboço)
Ola pessoas, de tempos em tempos eu venho atualizando meu projeto de escrever um livro mostrando para vocês. Para quem não estava acompanhando, desde 2014 decidi divulgar meu trabalho sobre um universo fictício que sempre estava guardado na minha cabeça. (Somente) Agora eu consegui escrever o esboço do primeiro capítulo do livro Um Errante do Tempo. Espero que curtem e como sempre estou aberto a sugestões, criticas e opiniões de vocês!
Capitulo 1
-Filho, vem cá – chamou meu pai – Você já conhece o Samuel né? Então, quero que você traga aqueles materiais de construções que deixei separado no galpão dentro de um saco.
Fui andando até o galpão que ficava no fundo do posto, mesmo sendo organizado estava difícil achar o saco por causa da escuridão. No canto esquerdo estava um lampião pendurado sobre um prego na parede, peguei ele e o acendi com um fósforo. Por intuição de "coletor" guardei a caixa de fósforo em um dos meus bolsos, eu deveria parar de pegar as coisas sem motivo. Adentrei na escuridão com a pequena ajuda do lampião clareando o chão e os pilares ao redor, era tudo de madeira, o chão rangia a cada passo. Andei até achar o corredor onde meu pai deixou diversos materiais e ferramentas. No fundo é onde estava o saco, puxei ele e tentei levar sobre meu ombro porém era pesado demais, tinha tanta coisa ali dentro que provavelmente pesava mais que eu!
Trouxe o saco arrastando até a saída do galpão, quando eu vi os dois conversando no fundo tentei mostrar algum tipo de esforço, reagrupei todas as minhas forças e levantei o saco até levar para as costas. Cada passo era desgastante.
Chegando perto meu pai exclamou:
-O que você está fazendo? Isso é muito pesado para você!
-Não foi nada pai! –disse tentando disfarçar a dor nas costas e o ar ofegante.
-Parece que você tem um filho forte pelo menos!
Dei um sorriso amarelo e vergonhoso após descobrir que a filha do mercador estava por perto.
-Quer que eu leve para a sua caminhonete?
-Pode deixar que eu cuido, obrigado garoto.
-Obrigado filho, pode ir –disse meu pai.
-Ok, eu estarei lá no posto se precisar de mais ajuda.
-Beleza, mas talvez não precise mais.
O posto era nada além de uma casa de madeira, ficava no litoral ao lado do monte de lixo, ali meu pai administrava os serviços e organizava os itens no estoque –qualquer coisa encontrada que prestava ficava guardado no galpão- fiquei do lado de fora para observar o horizonte no mar, me deixava calmo pois parecia que eu tinha alguma ligação, talvez com o mar ou o horizonte em si, separando dois mundos por uma linha: não o céu da terra, mas do conhecido ao desconhecido. Distraído com os meus próprios pensamentos, a jovem filha do Samuel chegou perto de mim silenciosamente. Seus cabelos eram longos e castanho, pele não tão claras, olhos escuros e lábios vermelhos. Ela parecia um pouco tímida, mas mesmo assim sentou ao meu lado. Estava segurando uma moeda antiga, grande e meio desgastada.
Depois de um longo e desconfortável silêncio ela decidiu se apresentar:
-Oi! – disse ela com uma voz tímida – me chamo Adeline.
-Me chamo Alex, prazer – respondi sorrindo, ela olhou para mim e logo depois voltou a olhar para aquela moeda.
-O que é isso? – tentei perguntar sem parecer intrusivo.
-isso? – levantando a mão com a moeda – bem, eu não sei na verdade, meu pai me deu de lembrança em uma das viagens quando eu era criança... – ela falava enquanto encarava um dos lados na moeda, recordando do passado – Eu tinha perdido ela por um tempo e encontrei esses dias quando eu estava arrumando as coisas para a viagem.
-hum... de onde você veio?
-No interior da província francesa... mas toda hora nós nos mudamos por causa dos negócios do meu pai.
Eu só conhecia os outros lugares pelo relatos de outras pessoas, pois nunca sai da cidade em que eu nasci. – E como é lá?
-bem... – ela estava procurando palavras para descrever – é mais frio do que aqui! – sorriu – dá para ver a grande cidade ao leste da vila onde eu vim, e acho que é só isso – ela olhou ao redor – talvez seja um pouco maior do que aqui.
-Você viaja muito com o seu pai?
-Nem sempre, boa parte eu tenho que ficar com a minha irmã e minha mãe, sempre peço para meu pai me levar com ele, e é bem raro ele aceitar...
-Deve ser legal conhecer lugares novos! – fiquei encarando o horizonte sonhando de novo.
Ela assentiu com a cabeça.
Depois de uma confortável companhia com ela, nossos pais terminaram de negociar, o pai dela a chamou e ela teve que sair. Quando ela já estava de saída, eu percebi que ela deixou cair aquela moeda no banco, eu peguei e observei essa moeda, parecia de aço, tinha duas figuras, um de cada lado, era difícil dizer o que era, parecia um símbolo que eu não estava familiar, um lado era mais escuro que o outro, seus traços eram menos suaves que do outro lado. Eu estava em dúvida se eu devolvia para ela ou ficava comigo. Ela poderia ter deixado de propósito eu pensei, mas porque ela deixaria?
Já era tarde, ela já tinha ido, e não saberia se ela voltaria mais ou não. Naquele momento eu fiquei dividido em o que fazer, se deveria deixar com ela já que era dela a moeda, ou ficasse comigo, seria só mais um caso de eu pegar algo que não é meu só para entulhar na gaveta do meu quarto? Deixei no meu bolso e fui para casa.
Uma semana depois, eu achava que seria só mais um dia rotineiro, acordei, comi alguma coisa e ia ajudar meu pai no posto coleta de lixos. Quase todo dia tinha que ajudar na administração da coleta, como organizar as coisas úteis de inúteis e cuidar dos lixos mais contaminados com a radiação.
Era uma manhã cinzenta porém clara, não estava nublado e não tinha nada fora do normal. Sai da casa e fui caminhando até o posto de coleta de lixos que não era muito longe, mesmo que o posto fosse afastado da pequena cidade. O posto ficava na praia, pois naturalmente os lixos do oceano chegava até lá e se acumulava aos poucos.
Me encontrei com um colega de trabalho no posto, Pietro era seu nome. Um cara simpático que se impressionava muito fácil com as coisas, mas não gostava tanto de história quanto eu. Estávamos conversando enquanto retirávamos algumas peças de metal no posto de coleta até que ele encontrou uma estranha peça de ferro, mostrou para mim e perguntou se eu sabia o que poderia ser:
-Tem alguma ideia do que isso pode ser?
-Hum... – Eu observei o pedaço de metal enferrujado tentando deduzir o que era. – Não faço ideia.
-Há, milagre você não saber, você sempre sabe de tudo que é lixo!
-Um dia essas coisas não foram somente lixos, eu gosto de saber qual foi sua utilidade antigamente.
Meia hora depois sentamos para descansar um pouco, eu e Pietro estávamos conversando sobre o trabalho, depois de uma pausa, ele voltou a falar:
-Ei, e aquela knabino que você conheceu esses dias? Aquela filha do mercador que sempre vem para cá?
-O que tem ela?
-Não precisa esconder, dá para perceber que você gosta dela!
-Como assim!? - Tentava sem sucesso parecer inocente sobre o assunto - Eu... eu nem conheço ela direito! Mal sei o nome dela!
-Ela é bem bonita, você deveria conversar com ela!
-Ela provavelmente nunca mais vai voltar para cá, e se viesse o que eu iria falar para ela?
Quando ele estava prestes a falar algo que talvez poderia ser um bom conselho ou simplesmente alguma bobagem, foi interrompido por um apito, era o sinal de recolher, nosso expediente acabou. Depois de ser interrompido pelo apito, Pietro foi voltar a falar o que queria falar quando um outro funcionário chamou ele:
-Ei Pietro, o chefe está te chamando, ele quer conversar com você um pouco.
Nós nos entreolhamos então ele se levantou.
-O que seu pai quer conversar comigo? - perguntou ele.
-Não sei. Até amanhã amigo.
- adiaŭ.
De tarde quando terminei o serviço, de costume subi um morro que tinha uma vista admirável da cidade e do oceano, pelo menos dos poucos prédios abandonados ao lado da pequena cidade e do oceano com um horizonte inacabável de poluição. O céu até que estava razoável, não dava para imaginar que em alguns minutos, ou horas não sei, iria vir uma tempestade horrível. Eu ouvi uns boatos que estava ocorrendo umas tempestades estranhas em outras regiões da Europa, com alguns raios que atingira várias pessoas de forma bem seletiva, nem pensou na minha cabeça que eu seria um desses.
Como eu gostava de deitar na colina e começar a refletir sobre as coisas, meus sonhos, da vida em geral, coloquei a mão no bolso e peguei aquela misteriosa moeda que a garota deixou cair, eu não compreendia os símbolos porém eu sentia que um lado representava algo positivo enquanto o outro algo não tão amigável.
Então quando a tempestade chegou, começou a vir os raios, não eram comuns, eram verdes. Um deles me atingiu, e desmaiei.
Sempre me disseram que eu era uma cara de sorte, não sei aonde eles encontravam sorte em mim. Talvez seja algo dentro de mim e por isso eu não enxergo, como outras qualidades e defeitos que você precisa de uma segunda perspectiva para saber que elas existem.
Quando acordei, já era noite. Estava escuro, o oceano refletia foscamente a lua e as luzes dos acampamentos, barracas e outros estabelecimentos em volta da antiga cidade abandonada, algumas sendo das tochas e outras das lâmpadas, mas todas com um tom amarelo-alaranjado.
Eu então percebi que minhas mãos estavam formigando, não sabia o que poderia ser, quando olhei comecei a passar mal, minhas duas mãos estavam com uma mancha grande e escura, parecia duas manchas simétricas, com alguns detalhes parecido com chamas descendo para os pulsos, acreditei que poderia ter sido por causa do raio, mas não fazia sentido estar nas duas mãos, e o que parecia foi que pegou bem no meio peito. Fiquei desesperado então comecei a voltar para a cidade.
Quando eu descia o morro correndo, passava por um pequeno bosque, e chegava na cidade. Eu sempre fui para aquele morro, sempre voltei mas parecia que o caminho era mais curto agora, nem percebi que era eu que estava mais rápido, ou melhor, o tempo estava passando mais devagar. Só quando cheguei perto da cidade para respirar um pouco, percebi que estava chovendo, mas eu não estava molhado desde então!
Não fazia sentido estar chovendo agora, pois já parecia que estava chovendo antes, mas parei de pensar nisso quando um morador por perto me olhou com uma cara de espanto enquanto segurava um guarda-chuva que nem fazia sentido de estar com ele já que tinha alguns rasgos.
-Você viu aquele raio que caiu lá no morro? Você estava lá em cima, não estava?
Perguntou o senhor. Estava tentando responder mas eu estava ofegante demais, fiz sinal para ele me dar um tempo para respirar, então respondi:
-Sim, ah, eu... acho... que fui... atingido por um raio...
-Como veio correndo até aqui? Depressa, vai para a clínica do Rufus, ele pode te ajudar. Deixe que eu te ajudo.
-Não, estou bem... é sério, consigo andar até lá...
Eu estava melhor agora, não sei como me recuperei rápido, então eu fui direto para a clínica que por sorte ainda estava aberta.
Não tinha ninguém na rua exceto por aquele senhor, chegando até a clínica bati na porta apressadamente, a chuva estava cada vez mais forte e já estava todo encharcado. O doutor então abriu a porta, um homem de cinquenta e poucos anos, careca com pele escura e uma barbicha grisalha. Não era uma pessoa gentil, mas cuidava bem dos seus pacientes.
-Ora Alex, o que está fazendo a essa hora acordado? Aconteceu alguma coisa com seu pai de novo?
-Não, meu pai está bem... eu acho. É que antes de começar a tempestade eu estava no morro e....
-Espera um pouco, o que aconteceu com sua mão? Entre, deixe eu ver.
Entrei então na sua clínica, que por sinal era bem organizada e limpa, diferente de muitas casas que quase nunca tinha tanta higiene na cidade. Então continuei a falar o que aconteceu:
-Eu acho que fui atingido por um raio e desmaiei, doutor.
-Você só acha? (Com tom de sarcasmo) Bem, você tem sorte de ainda estar vivo garoto. Agora vamos ver se está tudo bem e ver o que aconteceu com suas mãos. Você sente alguma coisa?
-No começo só um formigamento, agora nada.
Rufus começou a me examinar e depois de um tempo concluiu:
-Você está bem não sei como, mas suas mãos...
-O que? Essa "coisa" vai cicatrizar né?
-Bem, nunca vi isso parecido, parece uma queimadura, mas não tem nenhum sintoma disso. E se eu não soubesse do raio eu diria que isso parece com uma tatuagem! Você não consegue se lembrar de nada? Você disse que estava lá no morro de tarde, mas já é quase meia-noite!
Se passou umas 7 horas, e eu não me lembrava de nada. A chuva continuava com alguns trovões ao fundo, e as luzes dos raios entravam nas janelas da clínica, de forma continua quase como um padrão.
-O que eu faço agora doutor?
-Acho melhor você descansar, se seque e vá dormir, se alguma coisa acontecer é melhor vim aqui. Ah, e não esquece de ver se seu pai não precisa mais de ajuda, nossa cidade não está prosperando muito quando se tem gente demais doente.
-Ok, obrigado e boa noite.
Sai da clínica e fui direto para minha casa. Era um pouco mais distante já que eu morava em uma cabana perto da praia.
No caminho começou a me dar um mal estar, não sei se era o peso da chuva sobre mim ou era o efeito do raio, tentei dar mais alguns passos e tropecei. Então eu tive uma sensação horrível de não conseguir ter forças o suficiente para se levantar. Por mais que eu tentava, mas forte parecia que o chão tentava me puxar, mais fraco eu sentia. Então ali mesmo no meio da chuva, no escuro em uma rua vazia, desmaiei mais uma vez.
O sonho é algo tão misterioso quando o que ocorre depois da morte. Tantas especulações mas sem nenhuma resposta concreta. Mas será mesmo que vale apena desvendar a resposta? E se todo esse misticismo desaparecesse? Tem coisas que merecemos ser ignorantes sobre.