'Ficar longe dos comentários' é realmente o melhor a se fazer?

#Artigo Publicado por Turokrj, em .

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Não é de hoje que os espaços de discussão na internet estão infestados por comentários violentos, machistas, racistas ou homofóbicos. Às vezes, o grau de irracionalidade destas opiniões é tamanho que causa repulsa e gera ímpetos de afastamento - quem nunca ouviu o bordão "fique longe dos comentários"? Para o ilustrador Vitor Teixeira, dono da fanpage Comentários Irracionais, apesar de tentadora, a postura não é construtiva se a ideia for conter o alastramento dos comentários odiosos.

"É uma fuga, o enfrentamento é melhor, ele pode ser feito através da indignação ou do humor", diz. A primeira via consiste em acionar os autores judicialmente, pois não raro estão cometendo crimes, afinal o direito de expressão não pode atropelar outros direitos básicos. Coletivos feministas, indígenas, afrodescendentes ou LGBT com frequência fazem denúncias de comentários abusivos. A segunda forma de enfrentamento foi a que Teixeira escolheu, principalmente por meio de charges ou da veiculação de opiniões publicadas que são verdadeiras pérolas. "Utilizo o humor para esculhambar essas pessoas", explica.

A fanpage foi criada há cerca de dois meses e conta com quase 20 mil curtidas. Entre os comentários divulgados, alguns insinuam que o país está à beira do comunismo, que "bandido bom é bandido morto" ou então que os índios deveriam ser enviados a campos de concentração. Outros sugerem que um golpe militar seria a solução para os problemas do Brasil, enquanto muitos defendem a prisão perpétua e a pena de morte, e também afirmam que todo político é ladrão. Algumas opiniões chegam ao ponto de justificar o estupro ou a pedofilia como sendo comportamentos aceitáveis. "A pessoa que fala apenas uma dessas frases está habilitada a falar todas as outras", aponta Teixeira, que credita o ódio e superficialidade desses argumentos à desinformação e à completa e irremediável sujeição do indivíduo ao senso comum.

"A página é um desabafo diário de ver tanta coisa absurda sendo propagada por pessoas que não têm conhecimento do que estão falando", diz. Em suas buscas, ele constatou que colunistas e blogueiros mais tolerantes tendem a ter leitores mais críticos e caixas de comentários mais civilizadas, enquanto os mais inflamados agregam os internautas irracionais. Viu também que muitas vezes um título de texto polêmico pode funcionar como uma espécie de "gatilho" para que opiniões controversas sejam disparadas em peso.

A questão dá origem a uma discussão importante: até que ponto os comentários podem ser moderados sem que isso se configure como censura? Atualmente, grande parte dos portais e veículos de comunicação online têm suas próprias políticas de moderação, cada um dita as próprias regras. Mas o que mais preocupa Teixeira é que a crescente onda de comentários irracionais passem a justificar intervenções mais invasivas. "Essas pessoas estão servindo de bucha de canhão para um possível movimento de censura maior, que pode afirmar que 'a sociedade está maluca, portanto alguém precisa intervir'", diz. "É horrível imaginar um negócio desses na sociedade informatizada em que vivemos".

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, Danger de Janeiro