O Xbox Live Gold ainda faz sentido?

#Artigo Publicado por Anônimo, em .

Como o serviço da Microsoft prejudica os seus consumidores.

Há mais de dois anos que não pago pelo Xbox Live Gold. Utilizava-o sobretudo para fazer umas partidas de Halo ou Call of Duty, mas com o trabalho e os horários bastante apertados prefiro apreciar uma boa experiência single player. No entanto, às vezes apetece-me mandar uns tiros no Xbox Live e é nessas alturas que sou presenteado com um colorido ecrã a explicar-me as "vantagens" de abrir a minha bolsa à Microsoft.

Sempre reconheci grande qualidade e mérito ao Xbox Live, mas nunca achei o modelo de negócio praticado muito justo. Com o passar dos anos, o serviço cresceu e criou novas formas de se sustentar, mas a Microsoft insiste em levantar uma barreira a quem não estiver disposto a pagar uma renda anual.

Será que fomos mal habituados ou este modelo de negócio é realmente injustificável?

Conta-me como foi

Foi no ano 2000, graças ao serviço Dreamarena da Dreamcast, que a maior parte dos jogadores de consolas tiveram o seu primeiro contacto com jogos online. Apesar de rudimentar aos olhos do que nos é oferecido hoje, o serviço era bastante avançado para a altura, tirando o máximo partido do "veloz" modem de 33kb da última consola da Sega.

A Dreamcast esteve muito à frente do seu tempo em vários aspectos e a ligação à internet, uma funcionalidade que até então só encontrávamos nos PCs, foi apenas um dos seus muitos pontos altos. Estavam, assim, introduzidas as consolas ao mundo dos jogos online e do download de novos conteúdos que prolongam a vida dos nossos jogos. O serviço Dreamarena era totalmente gratuito.

IMAGEaHR0cDovL2kuaW1ndXIuY29tL282cndiLnBuZw==

Entretanto, surgiram no mercado as novas consolas da Sony e Nintendo e, apesar de terem alguns jogos online, não pareceram muito importadas em aventurar-se no território onde a Sega deu as primeiras pisadas. Ambas disponibilizavam modems de banda larga mas, ao contrário da Dreamcast, nenhuma o trazia de origem. A Microsoft, gigante dos PCs e acabada de entrar no mundo das consolas, não descurou este aspecto e empenhou-se em suceder onde a Sega tinha falhado.

"Jogar online é grátis e sempre o foi em todo o lado menos na Xbox."

Jogar online é grátis e sempre o foi em todo o lado menos na Xbox. Do nosso telemóvel à Nintendo Wii, jogar online nunca custou mais do que o nosso tarifário de internet. Uma excepção deve ser feita para os poucos jogos que requerem uma subscrição mensal, tais como World of Warcraft e Final Fantasy XI.

Se toda a gente oferece jogo online grátis, porque é que a Microsoft cobra por isso?

Vantagens? Quais vantagens?

É óbvio que não existe uma justificação oficial para o preço de admissão anual de €60 por isso só podemos especular.

O serviço Xbox Live é, de longe, aquele que mais "mutações" sofreu desde que foi lançado e raramente estas mudanças são meramente estéticas. Actualmente temos uma elegante interface muito próxima da do Windows 8 mas antes dela tivemos o NXE(New Xbox Experience), o interface de "lâminas" e o original, ainda na primeira Xbox. Tudo isto tem custos de R&D e de produção elevados mas não pode ser a atualização do interface e do firmware a justificarem o preço uma vez que, com maior ou menor frequência, todas as concorrentes da Microsoft o fazem.

O Xbox Live é o serviço que mais jogos e DLC exclusivo oferece. Já é tradição as expansões de Call of Duty saírem primeiro na consola. Também os grandes títulos da Bethesda, como Fallout e Elder Scrolls, receberam novo conteúdo primeiro na Xbox. Até mesmo as expansões de Grand Theft Auto IV saíram em na 360 antes de serem lançadas na PS3 e PC.

Os títulos "Arcade" também abundam no mercado do Xbox Live e embora a PSN receba bons exclusivos de tempos a tempos, tais como Journey ou Flower, a quantidade de lançamentos de qualidade é incomparavelmente superior no Live: FEZ, Super Meat Boy, Braid, Trials HD, Shadow Complex ou Mark of the Ninja são apenas alguns dos imperdíveis títulos indie que só podemos(ou um dia pudemos) encontrar na Xbox.

A luta cerrada entre Xbox 360 e PS3 levou ao declínio da quantidade de exclusivos AAA nesta geração e à ascensão dos jogos indie a um papel importante na diferenciação entre plataformas. O papel dos indie developers é cada vez mais importante e a Microsoft consegue, com o seu marketplace, pagar relativamente pouco por contratos de exclusividade sobre títulos de elevada qualidade.

IMAGEaHR0cDovL2kuaW1ndXIuY29tL3NsdTg1LnBuZw==

A compra da exclusividade de DLC e de jogos de distribuição digital é uma jogada de risco reduzido uma vez que a Microsoft pode utilizar parte do dinheiro que os jogadores pagam pelo Live para lhes garantir mais exclusivos no futuro. Para o consumidor isto parece ser uma "pescadinha de rabo na boca", pagando para ter onde gastar dinheiro.

Estes argumentos dificilmente justificam o preço anual de €60 que a Microsoft exige aos seus jogadores. O Xbox Live tem outras formas de se financiar- jogos, DLC, itens para o Avatar, serviços- e no fim quem fica a perder é sempre o jogador.

Basta considerarmos o seguinte cenário: sai um jogo multiplataformas para a Xbox 360 e PS3 e custa exatamente o mesmo na loja; o jogador que comprar a versão Xbox 360 estará sempre a comprar apenas os modos singleplayer do jogo- se quiser jogar o multijogador, terá de pagar mais €60 por ano ou €7 por mês. Quem comprar a versão PS3 leva para casa o pacote completo sem quaisquer pagamentos adicionais.

O que acho mais ofensivo acaba por ser o valor que a Microsoft cobra pelo serviço em diferentes territórios e os benefícios que cada um deles recebe em contrapartida. Por exemplo, uma subscrição Gold nos Estados Unidos da América custa $59.99/ano mas como é praticada a conversão direta, dentro da União Europeia a mesmo subscrição custa €59.99/ano em vez do valor real de, aproximadamente, €46. Para os tarifários de 1 e 3 meses a Microsoft ajusta o preço mas para o anual, utilizado pela maioria dos jogadores, decide não o fazer.

3

O Xbox Live não segue uma lógica de preço-qualidade, nem sequer dentro dos padrões por si mesmo estabelecidos. Além de muito menos serviços, os europeus também não têm acesso ao Xbox Live Rewards.

Não podemos dizer que não estamos já habituados a este cenário de conversão direta; o problema é que, apesar de termos de pagar mais, a quantidade de apps e serviços disponíveis é bastante inferior àquela de que usufruem os jogadores americanos. Serviços de aluguer de filmes, canais de desporto, canais de televisão premium e serviços de música não existem por cá, tirando o recente Xbox Music. Todos eles requerem a sua subscrição própria em cima da subscrição Gold, permitindo à Microsoft ganhar dos dois lados.

Recentemente, a PS3 tornou-se a máquina mais utilizada pelos subscritores do Netflix, o popular serviço de streaming de filmes e séries. Apesar de se encontrar disponível há mais tempo na Xbox 360 e esta ter muito mais utilizadores nos territórios onde o Netflix se encontra disponível, é preciso ser-se membro Gold para poder pagar pelo serviço. Parece ridículo mas a Microsoft exige uma subscrição em cima de outra. O mesmo vale para os restantes serviços, alguns disponíveis entre nós tais como o já mencionado Xbox Music.

No fundo, a Microsoft cobra pelo Xbox Live Gold porque pode. Faz bastante dinheiro com isso e com a Xbox 360 já está estabelecida, a maior parte dos jogadores não vai voltar atrás, gastar dinheiro numa nova consola e perder a sua lista de amigos e conquistas.

No entanto, o mercado está a mudar e a Microsoft pode ser forçada a adoptar uma nova posição.

"Quem é sábio aprende muito com os seus inimigos."

A vantagem do Xbox Live já foi mais clara. A concorrência tem dado passos importantes que tornam o pagamento do Xbox Live Gold difícil de justificar.

A Nintendo livrou-se, finalmente, dos malfadados Friend Codes e introduziu a Nintendo Network. Ainda está a dar os primeiros passos e a adesão dos jogadores ainda não é comparável com a das suas contrapartes mas a gratuitidade do serviço joga, claramente, a seu favor.

Mas quem mais progressos tem feito no desenvolvimento da sua rede é a Sony, indiscutivelmente a grande concorrente da Microsoft no segmento dos jogos hardcore. Até há bem pouco tempo, a PSN era um serviço quase anedótico. As queixas frequentes de crashes, ataques de hackers e, sobretudo, desorganização da loja online faziam o serviço corar ao pé do organizado e estável Xbox Live. Apesar de ainda não oferecer o mesmo número de demos, jogos e DLC exclusivos que podemos encontrar no Xbox Live e de as atualizações e patches frequentes continuarem a ser um pesadelo, a verdade é que a PSN evoluiu bastante desde a sua introdução. A nova interface da PS Store veio resolver aquele que era o principal problema da rede, a organização. Está tudo muito mais limpo e fácil de encontrar.

No entanto, o maior passo dado pela Sony nos últimos tempos foi o PlayStation Plus, um serviço pago que permite "alugar" jogos seleccionados durante o tempo da subscrição. O PlayStation Plus representa um novo modelo de financiamento da PSN, oferecendo aos seus subscritores bom valor pelo seu dinheiro e sem colocar barreiras aos demais utilizadores da consola. Não raras vezes ouvimos dizer que o PlayStation Plus está a "oferecer" um jogo, tal é a poupança real que jogadores hardcore podem tirar dele.

Uma subscrição anual do serviço PlayStation Plus custa €49,99, €10 menos que o Xbox Live Gold. Enquanto o PlayStation Plus "oferece" jogos todos os meses, o Xbox Live Gold retira uma barreira real aos jogos que compramos- o modo multijogador.

IMAGEaHR0cDovL2kuaW1ndXIuY29tL2I0b2NPLnBuZw==

Esta semana ficamos a conhecer novos detalhes sobre a entrada em cena de um novo concorrente de peso: a Valve.

A Valve é, provavelmente, a empresa mais querida dos jogadores de PC e ambiciona conquistar os corações e carteiras daqueles que preferem as consolas. Pouco sabemos sobre o modo de funcionamento da sua "Steam Box" mas uma coisa é certa: ninguém vai ter de pagar para jogar online. É também seguro contar com as famosas "Steam sales", saldos loucos onde podemos adquirir jogos a preços que nunca encontramos no marketplace do Xbox Live ou PSN.

Comparativamente, a poupança real para os jogadores será imensa e poderá dificultar a vida tanto à Microsoft quanto à Sony e Nintendo. Espero sinceramente que a pressão concorrencial obrigue a Microsoft a pensar duas vezes se vale a pena abrir mão das subscrições Gold em troca de modelos de negocio mais "amigáveis", que premeiem o jogador enquanto financiam o serviço e que, sobretudo, sejam mais justificáveis.

Anônimo
Anônimo
Publicações em Destaque
#Games, Por VSDias55,
#Games, Por VSDias55,
#Games, Por coca,