Projeto Microbioma humano. Somos só 10% humanos

#Notícia Publicado por Anônimo, em .

IMAGEaHR0cDovL3ZlamEuYWJyaWwuY29tLmJyL2Jsb2cvZ2VuZXRpY2EvZmlsZXMvMjAxMi8wNi83ODQ1NjU1MC5qcGc=

Na semana passada anunciou-se que o primeiro genoma microbiano humano havia sido completado (Nature, 14 de junho). O projeto envolveu dezenas de cientistas e levou cinco anos para ser concluído. Pudera. Se levarmos em conta que temos 100 trilhões de microorganimsos (bactérias, vírus e fungos) convivendo harmoniosamente dentro e fora do nosso corpo, dá para imaginar que estudar o genoma dessas "criaturas" não é uma tarefa simples. Quando li a notícia lembrei-me imediatamente da Dra. Bonnie Bassler, uma das cinco cientistas que ganharam o prêmio L'Oreal/Unesco para mulheres na ciência em 2012.

A Dra. Bassler dedica-se à comunicação entre as bactérias, decifrar qual é a sua linguagem. E se quisermos que elas vivam em harmonia conosco, ocupando territórios diferentes no nosso corpo, é realmente importante que elas se entendam. Que falem a mesma língua. Lembro-me da sua palestra durante a premiação na sede da Unesco na França dizendo: "Temos dez vezes mais bactérias que células convivendo conosco no corpo. Portanto, na melhor das hipóteses somos só 10% humanos". Aquelas pessoas que ficam vociferando por aí: Sabe com quem está falando? deveriam saber disso.

Como foi feita a pesquisa?

A semelhança do projeto Genoma Humano, o projeto Microbioma Humano reuniu cientistas de diversas instituições. Foram coletadas amostras de 242 pessoas saudáveis (entre 18 e 40 anos) de 18 partes diferentes do corpo representativas de cinco regiões principais: vias aéreas, pele, cavidade oral, trato digestivo e pele. No total foram mais de 5.000 amostras.

Qual é o objetivo de conhecer essa fauna microbiana?

As grandes questões que se quer responder são: quem são e o que fazem? Segundo Dirk Gevers, um dos cientistas que participou do projeto, o objetivo é ter uma gigantesca base de dados que sirva de parâmetro para estudos futuros sobre a saúde humana e as doenças. Esses dados estão agora disponíveis para a comunidade científica. O conhecimento sobre o genoma do microbioma vai nos ajudar a responder o que estão fazendo no nosso organismo: são amigos ou inimigos? Ou, convivem conosco pacificamente sem nos ajudar ou prejudicar? Resistem a antibióticos? Produzem toxinas? Ou moléculas que podem nos beneficiar?

O que foi descoberto?

Estima-se que o genoma do microbioma (metagenoma) contem 8 milhões de genes. Se lembrarmos que o genoma humano tem cerca de 22.000 genes, são 360 vezes mais!

A composição dessa comunidade de micróbios mostrou-se surpreendentemente diversa e abundante. Os micróbios podem variar na mesma pessoa de acordo com o local e também entre pessoas. Por exemplo, temos várias bactérias diferentes na saliva, mas pessoas que vivem na mesma comunidade tendem a ter micróbios semelhantes. Por outro lado, as bactérias encontradas na pele variam muito entre indivíduos. Mas apesar da variabilidade a maioria delas parece ter funções semelhantes, isto é, contribuir para produzir energia. Algumas são fundamentais. Por exemplo, as bactérias que vivem no nosso trato digestivo. Não seria possível digerir o que comemos se não fosse por elas.

Um recado importante

É claro que decifrar tudo que essa nossa população microbiana faz não será trivial. São pesquisas para muitos anos. Mas ao ler esse artigo lembrei-me de um fato que ocorreu recentemente. Encontrei uma amiga querida e quando me aproximei para cumprimentá-la com um beijo ela se afastou e disse: "Não chegue perto, estou com uma infecção ocular causada por uma bactéria. Não quero contaminá-la". Quem disse, perguntei eu? "O meu médico". Um mês depois ela me conta que continua com a bactéria. O que seu médico não sabe, mas deveria saber, é que trata-se daquelas bactérias que convivem conosco em harmonia. Espero que ela continue com você por muitos e muitos anos, querida amiga. Você precisa contar isso ao seu médico.

Anônimo
Anônimo
Publicações em Destaque