Terapia ocupacional com uso de games do Xbox 360 melhora pacientes do Francisca Júlia em São José dos Campos-SP
Ao som do hit setentista "Venus", Letícia (nome fictício) dança freneticamente em frente ao videogame Xbox 360. No jogo, ela ganha pontos simplesmente imitando os movimentos que a personagem faz na tela.
Por meio de um sensor de movimentação --o Kinect--, ela consegue interagir com a imagem na televisão, sem a necessidade de um controle tradicional. Para ela, jogar é uma terapia.
Letícia é uma paciente do hospital psiquiátrico Francisca Júlia, que fica no bairro Torrão de Ouro, em São José dos Campos. O videogame serve como uma terapia moderna que desmitifica modelos ultrapassados de tratamentos em pacientes com algum transtorno psiquiátrico.
Além de jogo de dança, os 120 pacientes que são também internos participam semanalmente de uma recreação com videogame que ainda abrange jogos como futebol, vôlei e boliche.
Na prática. "Faz uma diferença significativa, não só quando um paciente consegue se concentrar em uma atividade, mas também quando ele se surpreende ao concluir uma tarefa", disse Luiz H. S. Corrêa, monitor de terapia ocupacional.
A terapeuta ocupacional responsável pelas atividades, Larissa Gaia, salienta que a atividade --vista por muitos como uma brincadeira-- auxilia de forma eficaz a consciência corporal dos pacientes, que são majoritariamente compostos por portadores de esquizofrenia ou bipolaridade.
"A atividade com o Xbox estimula o conhecimento do próprio corpo. Às vezes eles se perdem e não sabem onde estão as mão, por exemplo. Há pacientes com dificuldade de locomoção, mas não é por algum problema crônico. É por falta de se exercitar e isso ele tem na atividade".
A relação entre o que acontece na tela e a realidade acaba se tornando um estímulo para os pacientes.
"Eles ficam ansiosos pelas próximas sessões da Xbox terapia. Há pacientes que quando chegaram aqui eram totalmente tímidos e retraídos, mas que com o passar do tempo passaram a dançar na atividade e a conviver melhor com os outros internos", explica Larissa Gaia.
Inserção. Além da atividade, a terapeuta ressalta que o hospital trabalha com diferentes propostas para promover a integração entre os pacientes, como shows a musicoterapia, oficinas e eventos, como Festa Junina. "É importante que eles tenham isso aqui dentro, porque reproduz o convívio social de fora do hospital".
Unidade é mantida pelo CVV
São José dos Campos
Mantido pelo CVV (Centro de Valorização à Vida) o hospital psiquiátrico Francisca Júlia completa 40 anos em 2012.
Além de propor um tratamento inovador --como a Xbox terapia--, o hospital desenvolve ações de auxílio no pós-tratamento, como no projeto "Koisa de Loko".
"Este projeto consiste em uma oficina terapêutica de panificação que os pacientes de grau leve e moderado podem utilizar como um meio de geração de renda, após deixar a internação", explica Luiz Carlos Peagno, diretor do hospital Francisca Júlia. Com 147 leitos --27 para dependentes químicos e 120 para pacientes da psiquiatria (em alas separadas)-- o hospital acaba se tornando moradia de pacientes que não têm família ou responsável.
"Também temos oito residências terapêuticas espalhadas por São José, nas quais pacientes de nível moderado que tiveram alta desenvolvem uma vida normal, com supervisão", explica o diretor.
Doações. É pela grande quantidade de atendimentos, que o hospital está aberto a doações de cestas básicas. São 700 refeições ao dia. O telefone do hospital é (12) 3944-9090.
Xbox terapia
Feita com o videogame Xbox 360, a atividade desenvolvida no Hospital Francisca Júlia consiste no uso terapêutico do Kinect, um sensor de movimento do aparelho. Com ele, os pacientes imitam os movimentos dos personagens na tela em jogos de dança ou de esportes
Resultados
Em muitos casos, os pacientes psiquiátricos apresentam dificuldade de locomoção por falta de estímulo adequado. Com a terapia no videogame, os pacientes apresentam gradualmente maior conhecimento de seus próprios movimentos. Além disso, a atividade também estimula o convívio social
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